Suddha Bhakti Yoga - Despertando a Consciência Divina
(Um resumo do primeiro capítulo do livro “Suddha Bhakti” de sua divina graça Bhakti Ballabh Tirtha Goswami Maharaj)
primeira vez em portugues.
Todos nós buscamos por felicidade neste mundo. Porém tal felicidade nos parece uma miragem ‘quanto mais corremos atrás dela, mais ela se distancia de nós. Quando uma pessoa inteligente percebe que está correndo atrás de algo ilusório e temporário, ela começa á questionar acerca da real e eterna felicidade ‘ananda’.
A natureza de todo ser vivo é ser feliz, bem aventurada e sentir-se em êxtase na conexão com a fonte do prazer Sri Krishna. “Krishna” significa “aquele que dá prazer e também aquele que atrai tudo e todos”. Aqueles que tem esta conexão transcendental podem sentir felicidade ilimitada, a qual não é encontrada neste mundo.
Então pode surgir uma pergunta: “Se Krishna atrai á todos e nesta atração encontramos felicidade, por que ele não me atrai e não estou feliz?” Podemos aqui usar a analogia do metal e do magnézio (ima). O ima tem a natureza de atrair o metal, porém quando há uma cobertura de sujeira no metal, o ima não consegue atrai-lo. Assim também, a sujeira acumulada nos nossos corações não permite que o todo atrativo nos atraia. Esta é nossa principal doença. Por estarmos esquecidos de Sri Krishna, dormindo no colo da ilusão, acumulamos muita poeira nos nossos corações. Assim o todo atrativo não nos atrai, ao contrário estamos sendo atraídos pela energia ilusória (maya). Queremos desfrutar deste mundo separadamente de Sri Krishna e o resultado disto é o sofrimento. As vezes desfrutamos um pouquinho de algo sensual e nos sentimos felizes, mas logo á seguir, sofremos a reação de tal ato e a infelicidade nos toma por completo novamente. Doença inevitavelmente acompanha o desfrute irrestrito. Na verdade, todos os atos performados com base no ego pervertido leva ao sofrimento. Então a pergunta é: “Devemos nós permanecer neste mundo eternamente, causando á nós mesmos, tanto sofrimento?”. Na Gita, Krishna diz:
“Eu sou a causa de tudo neste mundo. Ó Arjuna, tudo que você fizer, faça como uma oferenda á mim. Assim você alcançará verdadeira paz e felicidade.”
“Aquele que me adora com amor e devoção alcança minha eterna morada e nunca mais volta á nascer neste mundo material”
Um dia, todos terão que deixar este corpo, seja a pessoa rica ou pobre, feia ou bonita, todos terão que partir.
Yada vabda satante va
Mrtyu vai praninam drhuvah
(Padma purana)
“Uma pessoa pode permanecer aqui neste mundo por mais 1 dia, 1 mês, 1 ano ou 100 anos, mas o certo é que um dia ela vai ter que morrer”.
Porém, por estarem completamente cobertos pela energia ilusória de Deus, as pessoas não entendem este mundo. Elas pensam que é cheio de prazer, e que podem conseguir felicidade aqui. Deus é a causa deste mundo.
Quando as pessoas se tornam aversas á Deus devido á sua relativa independência, sua sombra vem e encobre eles. Esta sombra faz elas pensarem que este mundo é eternamente consciente e feliz, mas de fato isto não tem uma real substância.
Tudo que você vê é como um sonho. Enquanto você está dormindo você pensa que tudo é realidade, mas quando acordam, realizam que é falso. Assim, o mundo inteiro está sonhando.
Assim como quando temos uma doença, procuramos um médico e questionamos ele sobre qual foi a causa de tal doença e qual é a forma de tratamento, também devemos nos aproximar de um médico espiritual (Guru) e perguntar á ele qual foi a causa de tamanho sofrimento e infelicidade e também qual é a forma de tratamento para esta doença. O médico divino, o guru perfeito então irá nos transmitir internamente, no campo da alma, o conhecimento sobre quem somos, o que é este mundo, quem é Deus e qual é a nossa relação com Ele. Ele também dará o remédio, o método prático através do qual alcançaremos a felicidade divina. Devemos seguir as ordens do Guru cem por cento, com uma rendição incondicional e dar todo nosso coração á ele. Primeiro devemos analizar se tal Guru é realmente um guia fidedigno. Sobre isto, uma vez o Senhor Shiva disse á sua esposa Parvati:
“Ó Parvati, neste mundo é muito fácil de encontrar um guru que está só interessado em tirar toda a riqueza dos seus discípulos e extrair fama deles, mas é muito difícil encontrar um Guru que realmente pode livrar o discípulo deste oceano de repetidos nascimentos e mortes.”
(Shiva purana)
Então devemos primeiro analizar bem as características do Mestre espiritual á quem vamos nos render. Aceitando a guia e as instruções do guru genuíno, a pessoa interessada na real felicidade (acordar deste sonho, o mundo material), deve se render completamente ao Senhor Supremo Sri Krishna: “ saranagati, hoibe janhara”.
No épico Védico conhecido como Mahabharata, encontramos uma história sobre como devemos nos render ao Guru e á Krishna.
Quando Duhsasana quis despir Draupadi em uma assembléia de reis, Draupadi chorou e gritou o nome de Krishna, para ele resgata-la. Krishna salvou-a, mas não imediatamente. Devido ao fato de que Krishna a salvou um pouco depois do chamado, Draupadi disse á Krishna:
“Muito obrigado por me salvar, mas você poderia ter me salvado um pouco antes para eu não passar tanta vergonha. Por que você demorou tanto? Qual é a razão da demora?”
Krishna respondeu: “Você chamou por meu nome, eu admito. Mas aquele chamado não foi completo. Você não se refugiou completamente em mim. Primeiro você se refugiou em Bhima e Arjuna, pensando que eles poderiam vir e matar Duhsasana. Você gritou meu nome, mas não tomou meu abrigo. Você se abrigou em Bhima e Arjuna. Não é verdade?”
Draupadi: “Sim”
Krishna: “Então, por que eu deveria vir?”
Draupadi: “Bem, você deveria ter vindo depois disso.”
Krishna: “Depois disso, você se abrigou em Drona. Se Drona tivesse parado aquilo, ninguém teria o poder de continuar. Então, por que eu deveria vim se Drona poderia vir e salvar você? Eu não estou correto?”
Draupadi: “Sim, é verdade.”
Krishna: “Depois disto você tomou refúgio no avô Bhisma, o formidável guerreiro, e o mais respeitado membro da côrte. Se ele tivesse intervido, ninguém poderia fazer nada, você se refugiou nele. Então, porque eu deveria ter vindo já que Bhisma poderia resgatar você? Eu pensei, “Deixa ele proteger você”
“Depois disso, você refugiou em Dhrtarastra e depois em todos os reis presentes. Depois de tudo isso, você tentou se proteger por conta própria tentando segurar sua roupa com suas mãos. Porém, eu não apareço quando saranagati (rendição), é parcial. Quando, você com as mãos postas me chamou, tomando refúgio absoluto em mim, neste momento eu vim imediatamente”.
Á não ser que nos refugiamos completamente em Sri Krishna, não podemos receber qualquer remédio para as nossas misérias. Enquanto não nos submetermos completa e sinceramente ao Deus Supremo Sri Krishna, estamos destinados á sofrer as misérias deste mundo.
Abaixo alguns capítulos do livro "Nitya Dharma" de Srila Gurudev B.V.Narayan Goswami:
Divisões do dharma
Todas as variedades de dharma (dever
ocupacional) deste mundo, pode ser dividido em três categorias gerais:
- Dharma impermanente, que não se aceita a
existência de Deus e a eternidade da alma.
- Dharma circunstancial, que se aceita a
eternidade de Deus e das almas, mas apenas prescreve-se meios temporários para
alcançar a misericórdia de Deus.
- O eterno (nitya) dharma, que
se esforça através do amor puro almejando o serviço a Deus.
Religião eterna é uma só, não duas ou mais.
Diferentes países, classes, raças e línguas, identificam isto por diferentes
nomes; mas eles não podem mudar a função constitucional inerente da alma. O
amor espiritual inalterado que a alma infinitesimal (jiva) tem pela
entidade infinita (Deus) é a única eterna religião de todas as entidades vivas.
Esta é a suprema ocupação de todas as entidades vivas.
Na Índia esta função inerente é chamada de Vaishnava-dharma. O Vaishnava-dharma é eterno e o mais elevado ideal da religião
suprema. Na prática dos deveres ocasionais prescritos, não há direta execução
da eterna religião. Ao invés disto, eles atuam indiretamente. Então são de
muito pouco uso.
Os processos que visam uma religião
temporária são desprovidos da eterna ocupação da alma, e são descritas como as
funções dos animais. Elas devem ser rejeitadas.
O Hitopadesha (25) declara:
“Os seres humanos são iguais aos animais em
atividades como comer, dormir, temer e acasalar. Ainda sim, a qualidade da
religião encontra-se apenas nos seres humanos. Sem vida espiritual, seres
humanos não são melhores que os animais”.
Esta religião na qual a natureza da alma não
é cultivada; na qual o esforço é feito para aumentar os prazeres como comer,
dormir, acasalar e defender-se; e na qual o desfrute de objetos sensuais
temporários é suportado como sendo o principal objetivo da vida humana, é a
religião, ou ocupação, dos animais.
Nesta assim chamada religião, é de fato,
completamente impossível escapar de toda lamentação e obter felicidade pura,
que é o objetivo da vida humana.
Então, foi declarado no Srimad Bhagavatam
(11.3.18):
“Todo homem neste mundo está inclinado a
fazer karma com o propósito de ser liberado de lamentações e obter
felicidade, mas vemos que o resultado é justamente o oposto. Em outras
palavras, lamentação não é dissolvida e felicidade não é obtida.”
Por esta razão o Srimad Bhagavatam (11.9.29)
dá a instrução mais elevadas para todas as pessoas do mundo:
“Após perambular pelas 8.400.000 espécies de
vida, a pessoa obtém a rara forma humana de vida, a qual, mesmo sendo
temporária, concede a oportunidade de obter a mais elevada perfeição. Então, um
ser humano sóbrio, deve se esforçar pelo
objetivo último e absoluto da vida sem perder um momento sequer, até
quando seu corpo- que está sempre sujeito a morte, não cair e morrer.”
Algumas pessoas aceitam atividades buscando
recompensas (karma), outras aceitam o
conhecimento do aspecto impessoal de Deus para obter liberação (jnana), enquanto outras aceitam
meditação (yoga) como o meio para obter a prosperidade última.
Mas tudo isto é refutado no Srimad
Bhagavatam (1.5.12):
“Ó Uddhava, meditação (yoga), o
caminho do conhecimento envolvendo análises do espírito e matéria (sankhya),
estudo dos Vedas, austeridade e caridade, não podem Me dominar como a prática
da devoção- bhakti, praticada apenas a Mim.”
O significado deste verso é que a devoção
pura a Deus é o único meio pelo qual alguém pode obter seu benefício último.
Esta instrução também é dada nos Srutis:
“É bhakti (devoção) que revela Deus
às almas. Esta Suprema Pessoa é controlada apenas pela devoção”.
Assim sendo, bhakti, ou devoção pura,
é superior a todas as outras práticas e é a eterna religião da alma.
A natureza e ciência da
devoção transcendental
Qual é a forma da devoção e do amor puro? O
Sandilya-sutra diz; “Devoção pura é o amor e apego supremo à Deus. Desde
que isto tem a propensão de controlar o Controlador Supremo, sua natureza é
imortal.”
Srila Rupa Goswami descreve no Bhakti
Rasamrta Sindhu (1.1.11) a intrínseca natureza de bhakti:
“O serviço devocional puro é o cultivo de
atividades que visa exclusivamente o prazer do original Senhor Supremo- Sri
Krishna, em outras palavras, é o ininterrupto fluxo do serviço a Deus executado
através de todo esforço corporal, mental e verbal, e através da expressão de
sentimentos espirituais. Tal serviço não é coberto por conhecimento com objetivo
de liberação impessoal, ações fruitivas, meditação ou austeridades. Também é
completamente livre de todos os desejos que não seja o desejo de dar felicidade
ao Senhor Supremo.”
Esta devoção possui dois estágios: 1-
estágio de prática, 2- estágio de perfeição.”
O amor eternamente perfeito à Krishna é
chamado de prema-bhakti, e esta é a única religião eterna da alma.
No estágio de prática, esta devoção, mesmo
que seja eternamente perfeita, permanece coberta nas almas que caíram no
materialismo. Quando uma pessoa neste estágio coberto deseja reviver este amor
a Deus, ela começa a prática da devoção com seus sentidos. Esta prática de
devoção é também a religião eterna, ainda sim este é o estágio imaturo da
eterna religião, enquanto que a devoção no estágio de perfeição é totalmente
matura e é o estágio máximo da religião eterna.
Então, a religião eterna é só uma, e possui
dois aspectos:
-
Devoção regulada (vaidhi-bhakti)
-
Devoção espontânea (raganuga bhakti)
Até quando o apego espontâneo e gosto por
Deus não aparecer no coração do praticante, ele deve seguir as atividades
regulativas e as regras prescritas nas sagradas escrituras reveladas (vaidhi-bhakti).
Por outro lado, aquele que está engajado na
prática da devoção espontânea e o gosto aterriza em seu coração, ele, sem
considerar as regras e regulações das escrituras, se torna intensamente ávido
para obter os sentimentos dos eternos associados de Deus em Vraja- o plano
espiritual mais elevado, que possuem amor e devoção máxima por Krishna. Assim,
tal praticante segue os passos dos eternos associados do Senhor.
As glórias do sankirtan-
o cantar dos santos nomes
No geral, existem sessenta e quatro ramos
desta prática devocional. Após tomar refúgio nos pés de lótus do mestre
espiritual puro- que é auto-realizado e livre de todas as impurezas do coração,
os membros mais proeminentes são:
1- Ouvir, 2- Cantar, 3- Lembrar dos nomes,
formas, qualidades, passatempos, caráter e atributos de Deus, 4- Servir Seus
pés de lótus, 5- Oferecer-Lhe orações, 6- Adora-Lo, 7- Render-Lhe serviço, 8-
fazer amizade com Ele, e 9- Oferecer-se completamente ao Senhor Supremo.
Dos sessenta e quatro ramos da devoção, os
nove mencionados acima são proeminentes. Destes nove; ouvir, cantar e lembrar
são os principais, e destes três; cantar Seu transcendental nome é supremo.
Todos os membros de bhakti (devoção) estão completamente incluídos no
cantar dos santos nomes de Deus.
De acordo com as fundamentais verdades
filosóficas, Deus e Seus nomes são não diferentes um do outro. As glórias dos
transcendentais nomes de Deus são profusamente encontradas nos sagrados textos
da Índia. Especialmente nesta era de desavenças e duplicidade, o canto dos
santos nomes de Deus é a única religião, ou refúgio.
O Brihad-naradiya Purana diz:
“Nesta férrea era de disputas e duplicidade-
a era de Kali, o único processo de liberação é o canto dos nomes de Deus, dos
nomes de Deus, dos nomes de Deus. Não há outra maneira. Não há outra maneira.
Não há outra maneira.”
O desenvolvimento
de bhakti. Começando pela fé até o amor puro por Deus
O caminho
progressivo do cultivo da eterna religião é revelado por Srila Rupa Goswamipad.
Esta sequência foi dada no livro Bhakti Rasamrta Sindhu (4.11), assim como se
segue:
-
Fé (sraddha): No
começo, fé na devoção acordará no coração de uma pessoa muito afortunada que
acumulou os resultados das suas transcendentais atividades piedosas por muitas
vidas passadas (sukriti). Está fé é a
semente da trepadeira de bhakti.
-
Associação
com santos- devotos puros do Senhor (sadhu-sanga):
Depois ela obtém a associação dos santos Vaishnavas e o mais importante, obtém
a associação de um mestre espiritual auto-realizado, que está
transcendentalmente situado e livre de todas as faltas e impurezas do coração.
O mestre espiritual lhe concederá hari nama- a poderosa e sagrada
vibração dos santos nomes de Deus. Por cantar hari-nama regularmente, o
mestre espiritual iluminará o coração do estudante com o divino conhecimento
transcendental.
-
Práticas espirituais e meditações (bhajan-kriya): Sob a guia destes
santos empoderados diretamente pelo Senhor, a pessoa então começa sua prática
espiritual de serviço devocional tais como ouvir, cantar e lembrar dos nomes,
qualidades, formas e passatempos de Deus.
-
Destruição
de todos os desejos materiais e impurezas do coração (anartha-nivrtti): Como resultado de praticar
tais atividades devocionais, todos os indesejáveis desejos e impurezas do
coração que atrasam o avanço no caminho da devoção são destruídos.
-
Firme
fé nas práticas espirituais (nistha):
Então a pessoa obtém firme fé e se ocupa constantemente nas práticas
devocionais.
-
Gosto
transcendental (ruchi):
Depois disto, o gosto transcendental é obtido. Quando este real gosto é
acordado, a atração por tópicos espirituais tais como ouvir, cantar, lembrar
etc., se torna mais atrativa do que qualquer outra atividade material. Este é o
quinto estágio de desenvolvimento no caminho da devoção pura.
-
Profunda
atração por Deus (ashakti):
Isto se refere a especial atração por Deus e Seus eternos associados. Isto
ocorre quando o prazer pelas práticas espirituais leva a pessoa a ter uma
profunda e direta atração pelo objeto da prática devocional- o Senhor Supremo-
Krishna.
-
Amor
espiritual por Deus (bhav): Finalmente o devoto obtém
o fruto do amor puro por Deus. Isto é comparado a um raio solar do puro e
transcendental amor a Deus.
Neste estágio de devoção- bhav, a
essência da potência interna de Deus, a qual consiste de conhecimento puro e
êxtase espiritual, é transmitido ao coração do praticante provindo do coração
de um dos eternos associados de Deus que veio a este planeta. Neste estágio, o
devoto realiza em seu coração, as onze características do seu corpo espiritual
eterno tais como seu nome, sua forma, seu eterno serviço etc. Isto é chamado de
svarupa-siddhi.
Quando o estado de bhav amadurece completamente e fica
condensado, ele então é chamado de prema- amor transcendental e puro por Deus.