Guru-Tattva

Primeira parte – Guru Tattva - Sri Srimad Bhaktivedant Narayan Goswami Maharaj




Capítulo 1



As glórias de Sadhu Sanga





Venha comigo á Vrindavana. Aqui, na solitária atmosfera do templo de Radha Damodara em Seva-kunja, Krishna das Kaviraja Goswami costumava escrever seus livros. Seva kunja é um lugar para a perfeição (siddha sthali), porque Krishna costumava vir aqui servir Srimat Radhika. Aqui ele desfrutou de seus passatempos transcendentais, e aqui também encontramos as poeiras dos pés de lótus das gopis. Krishna também serviu Srimat Radhika em Vamsivata e Nidhuvana. Nestes lugares, Sri Krishna, Radhika e as gopis são controlados pelo amor personificado. Não aspiramos obter Krishna, e sim amor por Ele. Kamsa, Jarasandha, Sisupala e outros demônios também queriam Krishna, mas não tinham amor ou afeto por Ele.



Krsna, guru, bhakta, sakti, avatara, prakasa

Krsna ei chaya-rupe karena vilasa



“O Senhor Krishna desfruta em sua própria forma, na forma dos mestres espirituais, dos devotos, das diversas energias, das encarnações e porções plenárias. Todos eles são seis em um.”



(Caitanya Caritamrta Adi 1.32)



Srila Krishna das Kaviraja Goswami explica aquí que Sri Krishna se manifesta neste mundo de seis formas: como o próprio Krishna, como dois tipos de mestre espiritual, como seus devotos, como suas energias, como suas encarnações e como suas porções plenárias. Para entender as manifestações de Krishna, é preciso esclarecer alguns conceitos.

Em um dos primeiros versos do Sri Caitanya Caritamrta, Srila Krishna das Kaviraja diz:



“Antes de tudo, ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus do meu mestre espiritual iniciador e também aos pés de lótus de todos os meus mestres espirituais instrutores.”



Mantra guru indica o mestre espiritual iniciador, o que concede o gayatri mantra. O mestre espiritual instrutor (siksa guru) nos ensina como devemos servir Sri Krishna, quem somos, o que é devoção (Bhakti), qual é a realidade sobre a entidade viva e como a alma condicionada pode alcançar a perfeição em bhakti.

No Bhakti-rasamrta-sindhu, Srila Rupa Goswami declara:



Anyabhilasita-sunyam jnana-karmadi-anavrtam

Anukulyena krsnanu-silanam bhaktir-uttama



“Serviço devocional puro é executado com amor e afeição, adotando tudo que é favorável e rejeitando tudo que é desfavorável á bhakti. Tal serviço não deve ser mesclado com atividades fruitivas ou especulações filosóficas.”



A pessoa que deseja devoção pura deve lembrar e recitar este verso todos os dias e tentar compreender seu significado. Esta prática é denominada sadhana-bhakti. Quando praticada através dos sentidos culminando na manifestação de sentimentos espirituais, é chamada de bhava-bhakti, e quando aprofunda ainda mais se converte em prema-bhakti. Dependendo do nível de cada devoto, pratica-se um destes níveis de bhakti. Um mestre espiritual que não experimenta sadhana-bhakti, bhava-bhakti e prema-bhakti não pode dar devoção, mesmo que externamente pareça um guru. Isto é dito não apenas no Srimad Bhagavatam, mas também nos Upanisads e no Caitanya Caritamrta. Devemos entender o seguinte princípio:



Tasmad gurum prapadyeta

Jijnasuh sreya uttamam

Sabde pare ca nisnatam

Brahmany upasamasrayam



Toda pessoa que deseja sinceramente a verdadeira felicidade, deve buscar por um mestre espiritual fidedigno e refugiar-se nele através da iniciação. O mestre espiritual deve ter compreensão das conclusões filosóficas das escrituras através da reflexão e deve ter a capacidade de convencer outros destas conclusões. Estas grandes personalidades, que se refugiaram no Senhor Supremo e abandonaram toda consideração material, são mestres espirituais genuínos. (Srimad Bhagavatam (11.3.21)



Para alcançar a verdadeira devoção (bhakti) por Sri Krishna, ser verdadeiramente feliz e compreender quem são e como podem avançar nesta vida, devem dirigir-se á uma alma auto realizada escutar dele as conclusões sástricas. Tal mestre certamente os ajudará.

Pode-se distinguir três sintomas em um mestre espiritual fidedigno. O primeiro é sabde. Sabde quer dizer que seu conhecimento dos Vedas, Upanisads, Srimad Bhagavatam etc... é perfeito. Mesmo assim, este conhecimento das escrituras e a habilidade de argumentar baseando-se neles são insuficientes para dizer que tal pessoa é um guru fidedigno. Se esta pessoa não experimenta Krishna, não está absorta em bhajana e sua bhakti não está muito desenvolvida, então não é um guru.

O segundo sintoma é que ele está desapegado dos desejos mundanos. Estes primeiros dois sintomas são externos. O sintoma interno de um mestre espiritual genuíno é pare ca nisnatam brahmany. Parambrahman é Krishna. O guru deve ter uma compreensão interna disto, porque se não poderá cair de sua posição. Deve estar absorto em bhajana, porque o conhecimento dos argumentos das escrituras não é suficiente para se previnir de uma eventual queda. Pode ser que alguém conheça todos os argumentos para fundamentar os pontos de vista das escrituras, e algumas vezes pratica serviço devocional, mas se não está desapegado de seus desejos e dos objetos materiais, ele cairá. A queda do mestre espiritual é algo muito sério que afetará o discípulo durante toda sua vida. Devemos por tanto, ser muito cuidadosos associando com devotos que não podem cair. O que Swamiji escreveu sobre isto? Escutem com atenção, pois é muito importante:



Devoto: “Antes de mais nada, ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de lótus do meu mestre espiritual iniciador e de todos meus mestres espirituais instrutores.”



Significado – “Em suas teses no Sri Bhakti-sandarbha (202), Srila Jiva Goswami declara que o objetivo dos vaishnavas é o serviço devocional puro, e que se deve executa-lo na associação com outros devotos. Por associar-se com os devotos do Senhor Krishna, a pessoa desenvolve um tipo especial de consciência que lhe faz ficar atraída pelo serviço amoroso ao Senhor. Tal é o processo de se aproximar do Senhor Supremo pela apreciação gradual do serviço devocional. Se alguém deseja serviço devocional puro, deve associar-se com devotos. (Cc. Adi 1.35)”



Srila Narayana Maharaja: Sim. Reflitam profundamente sobre isto. Se vocês realmente desejam serviço devocional puro, devem procurar a associação com vaishnavas. De outro modo, terão asat-sanga, associação com materialistas. Sigam a linha de pensamento de Srila Swami Maharaja, tal como eu faço. Se alguém diz que não estou nessa mesma linha, ela mesma é que não está. Eu jamais digo algo diferente de Sri Chaitanya Mahaprabhu e Swamiji.

Se desejam serviço devocional puro por Krishna, devem seguir de forma resoluta as diretrizes e instruções que foram mencionadas. Se, ao invés disso, eles preferem ganhar dinheiro e pensam que a associação com um vaishnava elevado é um obstáculo para suas aspirações, não se sentirão inclinados á seguirem suas instruções. Se querem ser como Prahlada Maharaja, devem meditar muito nas afirmações dos significados de Swamiji. Agora, lê de novo a última frase e depois siga adiante.



Devoto: Se alguém deseja serviço devocional puro, deve associar-se com devotos de Krishna. Apenas através desta associação, a alma condicionada pode desenvolver gosto pelo amor transcendental e assim reviver sua relação eterna com Deus, com uma manifestação específica e com uma doçura de rasa transcendental particular que cada pessoa tem inerente em seu coração.



Srila Narayana Maharaja: Se vocês seguem esta instrução de associar-se com devotos puros, Sri Krishna fornecerá tudo á vocês. Não tenham medo. Krishna criou vocês. Ele é o controlador Supremo, de modo que vocês não devem ter medo. Se alguém segue esta instrução, Krishna tomará conta de tudo e todos os seus problemas serão resolvidos.

Se desejam serviço devocional puro á Krishna, sejam fortes e determinados, e associem-se com vaishnavas elevados. Esta recomendação é tão importante que é dita três vezes:



Sadhu sanga sadhu sanga sarva sastre kaya

Lava matra sadhu sanga sarva siddhi haya



O veredito de todas as escrituras reveladas é que a associação com um devoto puro, mesmo que só por um instante, pode-se alcançar o êxito completo na vida espiritual.



(Cc. Madhya 22.54)



O que este verso quer dizer? Que o serviço devocional puro pode ser obtido apenas com associação de devotos puros (sadhu sanga), e que esta instrução é nosso primeiro dever. Siga.



Devoto: O segredo desta instrução é que se deve escutar submissamente da boca daqueles que conhecem perfeitamente a ciência de Deus e prestar o serviço indicado pelo mestre espiritual. O devoto que já se sente atraído pelo nome, forma, qualidades, etc.. do Senhor Supremo, pode ser guiado até a prática do serviço devocional segundo um sentimento específico; não é necessário que perca tempo tentando chegar á Deus através da lógica.



Srila Narayana Maharaja: Sim. Não tentem alcançar Krishna através da lógica. A lógica por si só é insuficiente. Só é aceitável quando se trata da lógica relacionada ás escrituras como o Srimad Bhagavatam, o Sri Caitanya Caritamrta, e que está relacionada com a devoção, de outro modo ela não é aceitável.



Devoto: O mestre espiritual é expert em ocupar o discípulo no serviço amoroso e transcendental ao Senhor, de acordo com sua tendência específica.



Srila Narayana Maharaja: Um dos sintomas do mestre espiritual genuíno (tanto o instrutor quanto o iniciador) é que cada um dos seus discípulos sente um afeto tão profundo por seu Gurudev, que pensam que seu Sri-Guru o ama mais que todo mundo. Na presença do Sad-Guru, todos os vaishnavas, mesmo que não sejam seus discípulos diretos, sentem que este Guru o ama maisdo que todos os outros. Vi esta qualidade em meu Guru Maharaja e em Swamiji, e penso que muitos discípulos de Swamiji também experimentaram isto.

Os discípulos de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura Prabhupada nos contaram que todo mundo, dos meninos até os adultos, todos pensavam: “Meu Guru Maharaja me ama muito.” Os discípulos experimentam isto no guru genuíno porque ele não deseja obter nada material deles. A única coisa que ele quer é residir em seus corações e injetar-lhes Krishna-prema. E se ele mesmo não experimenta Krishna-prema, é impossível que transmita á outros. O Guru nunca toma o coração do discípulo como sendo sua propriedade, mas o suaviza e o torna doce para oferece-lo ao casal divino Sri Sri Radha Krishna. Primeiro, o discípulo oferece seu coração aos pés de lótus de seu amado Guru, até que um dia este guru o situará nos pés de lótus de Rupa manjari. Ele o colocará nas mãos de Lalita e Visakha, e elas por sua vez o levará aos pés de lótus de Srimati Radhika. Então, Srimati Radhika qualificará esta pessoa para servir Krishna e ela mesma.

Se um mestre espiritual não possui estas características, o discípulo deve pedir-lhe humildemente que lhe permita associar-se com uma alma elevada. Sem inveja, e admitindo que ele não pode satisfazer seu discípulo, este mestre o aconselhará á se refugiar em vaishnavas do calibre de Srila Jiva Goswami, Srila Rupa Goswami e Narottama das Thakura. Ele não importará que seu discípulo se refugie em um vaishnava superior. Um guru alto realizado (sad-guru) não deseja ganâncias materiais. Syamananda Prabhu recebeu instruções de seu diksa guru Hrdaya Caitanya para que fosse até seva-kunja (Vrindavana) e se refugiasse nos pés de lótus de Srila Jiva Goswami. “Ele irá te preparar para servir Sri Sri Radha Krishna”. Srila Jiva Goswami aparentemente não tinha discípulos, mas na realidade ele instruiu todos os habitantes da terra. Este é o sintoma do mestre espiritual autêntico.



Devoto: O devoto deve ter apenas um mestre espiritual iniciador, as escrituras proíbem aceitar mais de um, mas não há limite quanto ao número de mestres instrutores que se pode aceitar. No geral, um mestre espiritual que está sempre instruindo um discípulo na ciência espiritual, com o tempo se torna seu mestre iniciador.

Deve-se recordar sempre que quem se nega á aceitar um mestre espiritual e á ser iniciado, se tornará totalmente frustrado em seus esforços para relacionar-se com Deus. Se alguém que não é devidamente iniciado se apresenta como um grande devoto, encontrará muitos e muitos obstáculos no seu caminho rumo á compreensão espiritual e finalmente, deverá continuar sua existência na vida material sem nenhum alívio. Se alguém possui o desejo de receber a benção de Sri Krishna, deve aceitar um mestre espiritual fidedigno.

Se um devoto não tem a oportunidade de servir seu mestre espiritual diretamente, deve servi-lo lembrando seus passatempos. Não há nenhuma diferença entre seus passatempos e sua pessoa. Por tanto, na sua ausência, suas palavras e instruções devem ser o orgulho do discípulo. Se alguém pensa que não precisa se consultar com ninguém, incluindo um mestre espiritual, é um ofensor do Senhor e nunca voltará para Deus. Um aspirante sério deve aceitar um mestre espiritual seguindo as normas das escrituras. Srila Jiva Goswami aconselha á não se aceitar um mestre espiritual baseando-se em critérios hereditários, costumistas, sociais ou eclesiáticos. Para que haja um real avanço na compreensão espiritual, deve-se apenas encontrar um mestre espiritual que está verdadeiramente capacitado para tal.



Srila Narayana Maharaja: Podemos ver que Swamiji é um seguidor de Jiva Goswami. É muito difícil ter um Guru tão elevado. É excepcional. Se por algum crédito piedoso aceitamos até mesmo um mestre espiritual neófito, através de algumas impressões criadas no nosso coração, em nossa próxima vida estaremos aptos á conhecer um guru genuíno. Como vamos descobrir se é um guru fidedigno? Rendendo-se aos pés de lótus do caitya-guru (Krishna, situado no coração) e orando á Ele. Ele reside no nosso coração e escutará nossa prece. Se alguém ora dizendo: “Ó Krishna! Desejo de coração ser teu servo. Por favor, conduza-me até os pés de lótus de um Guru genuíno.” Sem dúvida, Krishna arranjará tudo. E aqueles que não oram desta maneira, acreditando e confiando na própria capacidade para eleger e examinar um Guru, com certeza vai ter problemas na sua vida espiritual. Krishna diz:



Sarva-dharman parityajya

Mam ekam saranam vraja

Aham tvam sarva-papebhyo

Moksayisyami ma sucah



Abandona toda classe de religião e apenas rende-te á min. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não temas.

(Bg.18.66)



Quando uma pessoa se rende sinceramente sem buscar por ganâncias materiais, Krishna arranja tudo pra que ele encontre um mestre espiritual. Se o aspirante comporta desta forma, receberá facilmente a misericórdia deste excepcional guru. Tudo depende de Krishna. Neste mundo é muito difícil encontrar um mestre espiritual genuíno, mas as escrituras dizem que é ainda mais difícil encontrar um discípulo genuíno capaz de se entregar completamente , tal como fizeram Arjuna ou Sudama Vipra com Krishna. Os Vedas, Upanisads e Puranas citam numerosos exemplos do guru ideal e do discípulo ideal. O exemplo mais elevado de rendição absoluta aos pés de lótus de Srila Rupa Goswami e Srila Sanatana é Srila Jiva Goswami. Quem é o mestre espiritual de Srila Sanatana Goswami e de Srila Rupa Goswami? Srila Rupa Goswami ora á Sri Caitanya Mahaprabhu na invocação auspiciosa (mangalacharana) em cada um dos seus livros, mas quando foi que Sri Caitanya Mahaprabhu iniciou Rupa e Sanatana Goswami? Temos dados ou lembranças de que foi celebrada algum sacrifício de fogo para suas iniciações ou de que eles ganharam algum mantra?

Sri Caitanya Mahaprabhu depositou tudo em seus corações, e eles também o aceitaram como seu guru em seus corações. Isto é muito importante, seguir Sri Gurudeva interna e externamente. Se entregamos nosso coração de forma natural aos pés de lótus de um vaishnava, significa que ele é nosso guru, tanto se nos dá mantras e faz um sacrifício de fogo, quanto se não faz nada disto. Estas coisas são externas e não são tão importantes como a rendição do coração. Srila Jiva Goswami deu vários exemplos disto em seus livros.

Há duas classes de discípulos, consequentemente há dois tipos de iniciação (diksa). Uma está relacionada com a formalidade externa de realizar a cerimônia de fogo e dar os mantras gayatri. Mas não se deve pensar: “Me sacrifiquei muito. Raspei a cabeça e recebi meus mantras, então já fui iniciado.” Isto é apenas um aspecto externo. A iniciação formal é essencial, mas não é completa sem a iniciação interna na qual o discípulo entrega por completo seu coração aos pés de lótus de seu Guru sabendo que ele o capacitará á servir Sri Sri Radha e Krishna.

O mestre espiritual dá ao discípulo todo o conhecimento transcendental (divya- jnana) referente á Verdade Absoluta (Krishna- tattva), ao mestre espiritual (Guru- tattva) e ao amor puro por Krishna (Prema-tattva), e também ensina o que é a energia ilusória (maya), na qual vemos o homem e a mulher como objetos de desfrute sensorial. Tal visão tem causado infinitos problemas nos matrimônios, sobre tudo nos países ocidentais. As pessoas se casam e divorciam várias vezes sem pensar em nenhum momento nos filhos. Matrimônio significa que o homem e a mulher devem permanecer juntos toda vida, os pequenos problemas não devem ser a causa do divórcio. O mestre espiritual instrui seus seguidores sobre o que fazer para desenvolver sua consciência de Krishna e lhes ensina a não ser apegados nem desapegados, sempre vendo á si próprio, filhos e esposa, como sendo servos de Krishna. O guru nos diz como devemos praticar bhakti e desenvolver nosso respeito, afeto e serviço á Krishna. Isto é divya-jnana. Por outro lado, Sri Guru destrói todas as nossas reações pecaminosas:



Divyam jnanam yato dadyat

Kuryat papasya sanksayam

Tasmat dikseti sa prokta

Desikais tattva-kovidaih



Kuryat papasya sanksayam. A vida material não é mais que um acúmulo de problemas derivados do apego ás coisas mundanas. Na vida material a pessoa considera-se a desfrutadora e está cheia de luxúria, ira, cobiça, loucura, ilusão e inveja. Gurudeva destrói as quatro etapas do pecado.



1- Prarabdha é o karma que deu fruto. Reações aos atos prévios que são a causa do sofrimento atual.

2- Kuta bija são pecados que não foram cometidos ainda, mas o coração tem a tendência de comete-los.

3- Aprarabdha são as reações que frutificarão no nosso próximo corpo

4- Avidya é a ignorância que faz com que uma pessoa tenha inveja de Krishna e se considere a desfrutadora. Esta é a raiz de todos os problemas.



Se nosso diksa-guru não está capacitado para fazer isto por nós, devemos aceitar um siksa-guru mais avançado. Orem á Krishna e á Sri Gurudeva para que lhes ajudem a resolver seus problemas. Um guru genuíno lhes aconselhará a se refugiarem em vaishnavas avançados do calibre de Srila Jiva e Rupa Goswami e Narottama das Thakur. Se o guru sentir inveja dos discípulos que se associam com um siksa-guru, ou tem alguma oposição aos vaishnavas, o discípulo deve abandona-lo.



Sri-rupa, sanatana, bhatta-raghunatha

Sri jiva, gopala-bhatta, dasa-raghunatha

Ei chaya guru-siksa-guru ye amara

Tan sabará pada-padme koti namaskara



Os mestres espirituais instrutores são Srila Rupa Goswami, Srila Sanatana Goswami, Srila Bhatta Raghunatha Goswami, Srila Jiva Goswami, Srila Gopala Bhatta Goswami e Srila Raghunatha Das Goswami. Estes são meus seis mestres espirituais instrutores e assim sendo, ofereço milhões de respeitosas reverências aos seus pés de lótus.

(C.c. Adi 1.36-37)



Srila Krsnadas Kaviraja Goswami ora em primeiro lugar aos seus siksa-gurus. Nesta parte do Sri Caitanya Caritamrta ele explica muitas coisas sobre guru-tattva. Quem são seus siksa-gurus? Srila Rupa Goswami , Srila Sanatana Goswami, Srila Jiva Goswami, Srila Gopala Bhatta Goswami, Srila Raghunatha Bhatta Goswami e Srila Raghunatha Das Goswami. Aqui há algo que devemos considerar. Srila Krsna das Kaviraja não menciona o nome de seu diksa-guru. Ele tomou siksa diretamente de Rupa Goswami e de Raghunatha das Goswami e no final de cada capítulo ele oferece especiais reverências á eles. Alguns dizem que seu diksa-guru é Raghunatha Bhatta Goswami, mas eu não vi nenhuma prova de que isto esteja certo. Em nenhuma escritura li nada sobre a idêntidade de seu diksa-guru. Minha opinião é que ele tomou diksa quando ainda estava casado e foi viver em Vrindavana. Sem diksa, ele não poderia receber o nome “Krishnadasa”. Pelo motivo que seja, ele não revelou o nome de seu diksa-guru, se não que nomeou os seis Goswamis associados de Mahaprabhu como seus siksa-gurus. Em vraja-lila, a forma de Srila Rupa Goswami é Rupa Manjari, Srila Sanatana Goswami é Labanga Manjari, Srila Raghunatha Bhatta Goswami é Raga Manjari, Srila Jiva Goswami é Vilasa Manjari, Srila Gopala Bhatta é Guna Manjari e Srila Raghunatha Dasa é Rati Manjari. Todos eles tem duas formas eternas, uma como associado de Krishna e outra como associado de Sri Chaitanya Mahaprabhu.

O discípulo que tem uma associação direta com um siksa-guru genuíno, sem dúvida alguma se torna um discípulo genuíno. Srila Krishnadasa Kaviraja se sente orgulhoso de ser discípulo dos seis Goswamis. Tan sabará pada padme koti namaskara. Ele oferece inumeráveis reverências aos seus pés de lótus e ora á devotos como Srivasa Pandita, que nos passatempos de Krishna é Narada Muni.



Bhagavanera bhakta yate srivasadi pradhana

Tan sabará pada-padme sahasra pranama



Entre os inumeráveis devotos do Senhor, Srivasa Thakura é o principal. Ofereço milhões de respeitosas reverências á seus pés de lótus.

(Cc.Adi 1.38)



Existem duas classes de devotos: as almas auto realizadas e aqueles que praticam sadhana (sadhakas). Na sua vida anterior, Narada havia sido um sadhaka-bhakta, e logo se tornou um bhakta auto realizado (premi bhakta). Aqui, Srila Krishna das Kaviraja Goswami refere-se á todos os bhaktas auto realizados: Svarupa Damodara, Ray Ramananda, Sikhi Mahiti, Madhavi-devi, Sarvabhauma Bhattacharya, etc. Há também os seis siksa-gurus proeminentes (os seis Goswamis) e todos eles são bhaktas auto realizados. Há também, as manifestações diretas do Senhor Supremo: Sri Advaita Acharya é a encarnação plenária de Maha-Vishnu e Sri Nityananda Prabhu é svarupa prakasa. Sri Gadadhara Pandita e Sri Jagadananda Pandita (os quais são Srimati Radhika e Srimati Satyabhama respectivamente) são saktis. “Por que então, Gadadhara Pandita tinha uma atitude tão respeitável e humilde para com Sri Chaitanya Mahaprabhu?” Além do mais, Ele era Srimati Radhika, a principal dentre as gopis que expressam livremente sua ira transcendental para com Krishna. A resposta é que Krishna, na forma de Sriman Mahaprabhu, roubou os sentimentos e a cor de Srimati Radhika, e Gadadhara Pandita simplesmente observava como mestre, para ter certeza de que Mahaprabhu desempenhava o papel de Srimati Radhika corretamente. Se Krishna, na forma de Sri Chaitanya Mahaprabhu, cometia algum erro, Sri Gadadhara Pandita lhe corrigia. Por exemplo, quando Sri Chaitanya Mahaprabhu encontrou-se pela primeira vez com Sri Nityananda Prabhu na casa de Nandanandanacharya, Sriman Mahaprabhu recitou chorando o seguinte verso do décimo canto do Srimad Bhagavatam:



Barhapidam nata-vara-vapuh karnakayoh karnikaram

Bibhrad vasah kanaka-kapisam vaijayantim ca malam

Randhran venor adhara-sudhayapurayan gopa-vrndair

Vrndaranyamsva-pada-ramanam pravisad gita-kirtih



As gopis começaram a ver Krishna dentro de suas mentes. Acompanhado de seus amigos pastorzinhos, Krishna entrou no encantador bosque de Vrindavana. Sua cabeça estava decorada com uma pena de pavão real, tinha flores karnikaras amarelas sobre suas orelhas, roupas amarelas cobriam seu corpo, e ao redor de seu pescoço estava uma charmosa e fragrante guirlanda vaijayanti. Sri Krishna mostrava seu aspecto supramente cativante como o melhor dos bailarinos. Com seus lábios nectários, tocava docemente sua flauta. Os pastorzinhos lhe seguiam cantando suas glórias, as quais purificam o mundo inteiro. Devido ás charmosas marcas deixadas por seus pés de lótus, o bosque de Vrindavana manifestou um esplendor ainda maior que Vaikuntha. (Bhag. 10.21.5)



Sri Chaitanya Mahaprabhu descreveu a charmosa forma de Krishna, mas não pôde atuar da mesma forma que Srimati Radhika, quando ela recitou este mesmo verso. Foi por isto que quem recitou este verso por detrás da cortina, foi Gadadhara Pandit. Com os olhos cheios de lágrimas, ele interpretou o papel de Srimati Radhika de tal forma que derreteu o coração de todos. Sriman Mahaprabhu, que fazia então, o papel de Sri Radhika, compreendeu então que não havia interpretado corretamente. Depois de falar das outras manifestações de Krishna, Krishnadas Kaviraja Goswami explica que Sri Chaitanya Mahaprabhu é este mesmo Svayam Bhagavan Sri Krishna.



Sri krsna caitanya prabhu svayam bhagavan

Tanhara padaravinde ananta pranama

Savarane prabhure kariya namaskara

Ei chaya tenho yaiche kariye vicara



(Cc.Adi 1.42-43)



Sri Chaitanya Mahaprabhu é a Personalidade de Deus; por tanto, prostro-me ilimitadas vezes aos seus pés de lótus. Após oferecer reverências ao Senhor e á todos os seus associados, explicarei agora estas seis diversidades em uma.



Foi assim que Kaviraja Goswami descreveu as seis manifestações de Krishna:



Yadyapi amara guru – caitanyera dasa

Tathapi janiye ami tanhara prakasa



Embora saiba que meu mestre espiritual é um servo de Sri Chaitanya, também sei que ele é a manifestação direta do Senhor.

(Cc. Adi. 1.44)



Saksad dharitvena samasta-sastrair. O significado profundo de hari-tvena é que o mestre espiritual possui as mesmas qualidade que Krishna, mas não é Krishna-visaya, e sim Krishna dasa. Sri Gurudeva é a personificação da misericórdia de Sri Krishna, mas é incorreto dizer que ele é Krishna-visaya.

Até mesmo os karmis, os jnanis e os tapasvis, consideram que o guru não é diferente de de Sri Krishna; mas não devemos ter a errada concepção de que o Guru é Deus. Em sânscrito tal suposição é denominada de aropa. É errado supor que o irreal seja o real. Não é correto por exemplo, dizer que uma árvore de manga recém plantada dá frutos doces, e sim que os dará no seu devido tempo.

Porém, quando se trata do desenvolvimento de nossa bhakti, é essencial praticar aropa. Tecnicamente isto recebe o nome de aropa- siddha- bhakti. A deidade não é diferente de Krishna, é o próprio Krishna. No nosso atual estado condicionado, vemos a deidade como uma estátua de pedra, mas supõe-se que ela é o próprio Krishna. Não podemos servi-la como se ela fosse o próprio Krishna, mas a medida que nosso amor por ela aumenta, perceberemos a deidade da maneira que Sri Chaitanya Mahaprabhu percebia: saksad vrajendra nandana vigraha (a forma pessoal direta de Vrajendra-nandana). A deidade nos revelará sua verdadeira natureza.













Capítulo 2





A função do mestre espiritual instrutor (siksa-guru)





Krsna, guru, bhakta, sakti, avatara, prakasa

Krsna ei chaya-rupe karena vilasa



(Cc.Adi.1.32)



O Senhor Krishna desfruta manifestando-se como os mestres espirituais, os devotos, as diversas energias, as encarnações e as porções plenárias. Todos estes são seis em um.



Aprofundam-se novamente comigo, no tema que estávamos discutindo, sobre o Sri Chaitanya caritamrta de Krishna das Kaviraja. Ele dizia que mesmo sendo um, Sri Krishna se manifesta em seis aspectos. Isto é chamado de acintya bheda bheda tattva. Também explicou que seus siksa-gurus são os seis Goswamis de Vrindavana. Revelou que Sri Advaita Acarya é uma encarnação de Maha-Vishnu (uma encarnação parcial de Krishna), e que Nityananda Prabhu é uma manifestação eterna tanto de Krishna quanto de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Por outro lado, Krishna e Chaitanya Mahaprabhu se manifestam pela misericórdia de Nityananda Prabhu. Assim, sem a misericórdia de Sri Nityananda Prabhu, não se pode compreender Chaitanya Mahaprabhu nem Krishna. Ele é a personificação direta e absoluta de guru-tattva.

Srila Krishna das Kaviraja Goswami descreve assim sua fortuna espiritual: “Tenho recebido a misericórdia dos seis Goswamis e de outros vaishnavas elevados, também recebi a misericórdia e a visão de Govinda, Gopinatha e Madana Mohana, e também vi e compreendi as glórias de Vrindavana Dhama. E tudo isto foi através da misericórdia de Nityananda Prabhu. Por tanto, sou seu servo e ele é meu guru”. Depois ele explica que a sakti de Krishna se manifesta como Gadadhara. Krishnacandra é o próprio Krishna, e Chaitanya Mahaprabhu é este mesmo Krishna, Vrajendra nandana Shyamasundara, com a beleza dourada de Srimati Radhika. Por tanto, ele é Radha e Krishna combinados.



Guru krsna-rupa hana sastrera pramane

Guru-rupe krsna krpa karena bhakta-gane



Segundo a conclusão de todas as escrituras reveladas, o mestre espiritual não é diferente de Krishna. O Senhor, na forma do mestre espiritual, libera seus devotos. (Cc.Adi 1.45)



O diksa-guru e o siksa-guru não são diferentes e estão no mesmo nível. Srila Rupa Goswami representa o siksa-guru e Srila Sanatana Goswami representa o diksa-guru, porém não há diferença entre eles. Ambos podem atuar como siksa ou diksa-gurus.

Meu Gurudeva, Nitya-lila-pravista Om Visnupada Srila Bhaktiprajnana Keshava Goswami Maharaja, é meu diksa e também meu siksa-guru. Pujyapada Bhakti Rakshak Sridhar Maharaja e Pujyapada Bhaktivedanta Swami Maharaja também são meus siksa-gurus. Qualquer discípulo de Srila Sridhar Maharaja ou de Srila Swami Maharaja que considere que Srila Bhaktiprajna Keshava Goswami Maharaja não está na nossa linha, não é um vaishnava. Não devemos associarmos intimamente com alguém que não oferece o devido respeito á Srila Bhaktiprajnana Keshava Maharaja. Ele é o sanyassa-guru de Srila Swami Maharaja, quem sente um profundo respeito por ele como guru e amigo.



Siksa-guruke ta´jani krsnera svarupa

Antaryami bhakta-srestha- ei dui rupa



Deve-se saber que o mestre espiritual instrutor é a Personalidade de Krishna. O Senhor Krishna se manifesta como a Superalma e como o devoto mais elevado. (Cc.Adi 1.47)



O diksa-guru é a forma de Krishna e o siksa-guru é a natureza pessoal de Krishna. Qual é superior? Não há diferença entre eles. Nosso diksa-guru é nosso mestre mais adorável porque sentimos veneração por Ele. Oramos á ele e tomamos a poeira dos seus pés de lótus. Mas o siksa-guru é como um irmão ou um amigo. As vezes podemos abraça-lo e falar com ele com total franqueza. Podemos revelar nossos pensamentos mais íntimos á ele, e dizer-lhe que desejamos associar com Krishna da mesma maneira que as gopis. Isto é algo muito secreto e sagrado. Pode ser que exitemos em falar estas coisas para nosso diksa-guru e por isso precisamos de um siksa-guru. Ele é como um amigo íntimo. Não há um sentimento de temor reverencial para com o siksa-guru e sim um sentimento fraternal. Assim também, nas etapas mais avançadas de bhakti, a pessoa não vê Krishna como a Suprema Personalidade de Deus e sim como seu amigo íntimo, seu filho ou seu amado. Ele sente que Krishna é seu e ao mesmo que ele pertence á Krishna.

Srila Rupa Goswami explica que o discípulo também deve servir seu diksa-guru com sentimento de intimidade, mas como está constantemente prestando reverências, este sentimento não pode manifestar-se sempre. Podemos confessar ao siksa-guru que sentimos atração por uma jovem e podemos pedir-lhe conselho, mas falar tais assuntos para o diksa-guru será mais difícil. Porque ele é como um pai digno de veneração, talvez a resposta seja muito dura e ele pode até pegar um bastão para bater em nós. Mas o siksa-guru, abraçará o discípulo e dizer:

Querido filho, é melhor que não te ocupe nestas coisas. Tente amar somente Krishna e oferecer seu coração ao serviço aos pés de lótus de Srimati Radhika. Não corra atrás das meninas deste mundo. Não são damas, senão que fogo ardente, um oceano de veneno. Não vá nesta direção.

Devido á natureza de afeição desta relação, é necessário ter um siksa-guru. Podemos revelar tudo á ele. Nossos siksa-gurus, Sri Krishna, Sri Chaitanya Mahaprabhu, Srila Krishna das Kaviraja Goswami e todos os acaryas que nos precederam, são conscientes dos nossos pensamentos e atos. Eles não morreram; estão dentro do nosso coração e são onipotentes.

Siksa-guruke ta´jani krsnera svarupa. O siksa guru é a svarupa de Krishna e o diksa é a rupa de Krishna. E sem dúvida, eles são iguais. Não há diferença entre a natureza íntima de Krishna e seu corpo externo, e quem pensa o contrário, é um mayavadi impersonalista e não devemos associarmos com ele.

Antaryami, bhakta-srestha – ei dui rupa. Há duas classes de siksa-guru. Antaryami é o siksa-guru dentro do coração, o chaitya-guru. Ele inspira interiormente. Se alguém ora dizendo: “Ó Krishna! Você é meu chaitya-guru e te entreguei meu coração; por favor, fazei-me refugiar em um mestre espiritual genuíno”. Krishna fará todos os arranjos. Se nos aproximamos de Krishna com o desejo sincero de ter um guru, estamos passando toda a responsabilidade para Ele, e assim não teremos que sofrer o resultado de uma escolha errada. Mas se elegemos nosso mestre espiritual por conta própria, se este cai, teremos desperdiçado nossa vida e vamos nos arrepender para sempre.



Tesam satata-yuktanam

Bhajatam priti-purvakam

Dadami buddhi-yogam tam

Yena mam upayanti te



Aos que estão constantemente consagrados servindo-me com amor, Eu dou a inteligência pela qual eles podem vir á mim. (Bg.10.10)



Aquele que está sempre conectado com Sri Krishna e lhe serve com amor e devoção, Ele próprio dá a inteligência mediante a qual pode ir á Ele. Que classe de inteligência Ele dá? Inteligência transcendental; a inteligência que nos conecta com Krishna. “Eles vem á mim e eu os ocupo em meu serviço”. Isto mostra que Krishna atua como chaitya-guru.



Há algum tempo atrás, no sul da Índia, vivia uma charmosa prostituta chamada Cintamani. Quando ela tinha 16 anos, dançava e cantava kirtans de forma tão doce que todos que á viam ficavam atraídos por ela. Bilvamangala Thakura, um brahmana piedoso casado com uma mulher muito casta, atraiu-se por Chintamani. Apesar de ser prostituta, Chintamani tinha a qualidade de desfrutar cantando canções em glorificação á Sri Krishna. Este era outro motivo pelo qual os homens sentiam tanta atração por ela. Bilvamangala Thakura também caiu em suas redes e como resultado disto, rompeu toda relação com seus pais e desapegou-se da sua esposa e filhos. Ele ia vê-la todas as noites e levava presentes que conseguia vendendo suas terras, jóias da sua esposa ou roubando dinheiro ou quadros valiosos. Esperava que ela lhe amasse em troca disso.

Após algum tempo, o pai de Bilvamangala morreu e seus familiares organizaram os rituais. No décimo terceiro e último dia da celebração, quando centenas de brahmanas se sentaram no pátio para honrar a maha-prasada, Bilvamangala entrou na cozinha e escondeu algumas preparações dentro de um quadro. No cair da noite, foi mais uma vez ver a prostituta sem preocupar se os convidados haviam tomado prasada ou não, e sem pensar em sua esposa e em sua aflita mãe.

Aquela noite não parou de chover. Para chegar á casa da prostituta, Bilvamangala Thakura viu que teria que cruzar um rio transbordado e que estava com uma corrente muito forte. Quando ele se perguntava como ia atravessar o rio, viu que algo flutuava diante dele. Sem compreender que se tratava de um corpo morto de uma menina, sentou-se sobre ele e assim atravessou o rio. Depois, andou por caminhos barrentos e rebaldiços, até que finalmente chegou á casa de Chintamani. Lá ele viu que a porta estava fechada e ficou um tempo ali, gritando e esperando para ver se alguém abria a porta. Como ninguém o ouvia, ele tentou outra maneira de entrar no recinto e assim chegou á parte de traz da casa, onde viu uma coisa que parecia uma corda. Quando ele agarrou aquilo para tentar escalar o muro, viu que se tratava de uma serpente. Então soltou a serpente e caiu ao solo, e como resultado do impacto, perdeu o conhecimento. Chintamani ouviu um ruído estranho e mandou sua serva averiguar o que era.

“Foi Bilvamangala que caiu, comunicou a serva um pouco depois.”

“Como isto foi possível? Como foi possível ele chegar até aqui?”

Cintamani e sua serva transportaram o corpo inconsciente de Bilvamangala até a casa e pouco a pouco conseguiram volta-lo á consciência. Quando o brahmana contou o ocorrido á Cintamani, ela disse:

“Você tem passado vários apuros para vir até mim, e amas este corpo que está cheio de sangue, urina, fezes, bílis e mucos. Se tivesse um pouco de amor e afeição por Krishna, tua vida seria exitosa. Mas você é muito luxurioso. Não posso ama-lo, vá embora daqui!”

Devido ás impressões de bhakti que havia acumulado anteriormente, aquelas palavras atravessaram seu coração mais velozes do que flechas. Se não tivesse estas impressões, a advertência não teria tanto efeito em seu coração e ele cairia aos pés da jovem como um cachorro. Ao invés disto, Bilvamangala compreendeu que devia mudar e desenvolver seu amor por Krishna. Ele já não sentia mais atração por Chintamani nem por sua própria família, mas sentiu um forte desejo de ir á Vrindavana. Ele passou os cinco dias seguintes cantando os santos nomes sem comer nada. Quando ele sentiu sede, se aproximou de um poço e pediu água á uma jovem recém casada que se encontrava ali com um pote. Bilvamangala pediu á ele que botasse um pouco de água na boca dele e ao mesmo tempo que bebia, contemplava a beleza da jovem. Ele á seguiu até a sua casa e quando ela entrou, viu um homem na porta que parecia ser seu esposo.

“Por favor, chama a jovem que acaba de entrar!” Ele chamou sua mulher e ela saiu em seguida.

“Em que posso servi-lo?”

Bilvamangala pediu á ela dois grampos. Ela não entendeu para que ele queria aquilo, mas mesmo assim lhe deu.

“Estes olhos são meus inimigos, porque me fazem prisioneiro da luxúria. Se não há bambu, não há flauta. Se me furo os olhos, minha luxúria irá embora. Cortaria minha luxúria pela raiz. Se estou cego, meu olhos não sentirão mais atração por mulheres charmosas e só vou querer desenvolver meu amor por Krishna.”

Assim, ele perfurou os dois olhos, primeiro veio o sangue e depois ele deixou de ver completamente.

Cantando Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Bilvamangala se foi dali. Após ter caminhado um curto trecho, um menino se aproximou e lhe perguntou:

“Que fazes aqui baba?” A voz do menino era muito dôce. Se tratava de um pastorzinho negro diferente de todos os outros.

“Estou indo á Vrindavana, querido menino. Quem é você?”

“Sou um pastor e também estou indo á Vrindavana. Se quiser, pode agarrar-se a esta vara e vir comigo. Eu te ajudarei.”

Vrindavana estava á quase seis meses de distância indo á pé, mas em poucos dias o menino anunciou que haviam chegado. Enquanto caminhavam, Bilvamangala ia compondo alguns poemas muito bonitos sobre a misericórdia de Krishna. Estes poemas são tão lindos que resultaram em um livro chamado Krishna-karanamrta (néctar para o ouvido de Krishna).

Passado o tempo, Sri Chaitanya Mahaprabhu encontrou este mesmo livro no sul da Índia e o ensinou á seus devotos.



O primeiro poema, dentro do mangalacharana do livro, diz assim:



Cintamanir jayati somagirir gurur me

Siksa-gurus ca bhagavan sikhi-pincha-maulih

Yat-pada-kalpataru-pallava-sekharesu

Lilá-svayamvara-rasam labhate jayasrih



Todas as glórias á Cintamani e a Somagiri, meu mestre espiritual iniciador. Todas as glórias a meu mestre espiritual instrutor, a Suprema Personalidade de Deus, que leva penas de pavão real em sua coroa. Na sombra de seus pés de lótus, que são como árvores dos desejos, Jayasri (Radharani) desfruta da doçura transcendental de uma eterna consorte. (Cc.Adi 1.57)



Bilvamangala Thakura oferece reverências a Cintamani porque ela lhe inspirou á refugiar em Sri Krishna. Que tipo de guru era ela? Um vartma-pradarsaka-guru, alguém que diz: “Vem conhecer um vaishnava auto realizado.” O vartma-pradarsaka-guru mostra o caminho e pode ser um kanistha, mas o guru iniciador não deve ser menos que um madhyama-adhikari.

Quais são os sintomas do madhyama adhikari? Vocês devem saber disto antes de aceitar um guru diksa ou siksa. Não devem aceitar um guru que não possui este sintomas. De outro modo, encontrarão muitos obstáculos em sua vida devocional. Se este guru cai, suas vidas serão arruinadas e lamentarão amargamente.

O primeiro sintoma é:



Tasmad gurum prapadyeta

Jijnasuh sreya uttamam

Sabde pare ca nisnatam

Brahmany upasamasrayam



Se alguém deseja ardentemente encontrar a verdadeira felicidade, deve buscar por um mestre espiritual genuíno e render-se a Ele por meio da iniciação. O mestre espiritual deve ter compreendido a conclusão das escrituras profundamente e por tanto deve ser capaz de convencer outros destas conclusões. Estas grandes personalidades que se refugiaram completamente no Senhor Supremo e deixaram para trás todas as considerações materiais, são considerados mestres espirituais genuínos.

(Bhag.11.3.21)



Destas qualidades de um mestre espiritual fidedigno, duas são proeminentes. A primeira é que ele tem um conhecimento completo das escrituras e a segunda é que carece de desejos materiais. Ele está sempre feliz servindo Sri Krishna. Se ele é feliz e sente que sua vida está cheia de problemas, ele não está preparado para ser guru. Haridas Thakur foi espancado por vinte duas praças até cair morto, mas não considerou que aquilo era um problema. Seguiu cantando Hare Krishna, Hare Krishna. Prahlada Maharaja foi torturado por seu pai, mas nunca sentiu que tivesse algum problema. Ele botava seus pés sobre a cabeça de todos os problemas. Quando um guru que canta, segue os noves processos de bhakti e tomou diksa se lamenta que tem muitos problemas- sua mulher o engana, seus filhos não estão com ele, não consegue fazer dinheiro, ou não tem um computador ou facilidades materiais, deve ser rejeitado imediatamente. O terceiro sintoma do guru é que ele experimenta krishna-bhakti. Se não tem esta experiência devido ao fato de ter desejos materiais, seguramente ele cairá.

O uttama-adhikari é superior ao madhyama-adhikari e oferece um resultado superior em bhakti, mas é difícil encontrar um guru deste nível neste mundo. Na ausência de um uttama-guru pode-se aceitar um madhyama-adhikari como siksa e diksa-guru. Este guru deve estar dotado dos três sintomas já mencionados mas também é preciso que tenha estas outras quatro qualidades.



1- Prema – Amor e afeto por Krishna.

2- Maitri – É amistoso com todos e serve os vaishnavas. Mantém três tipos de relações com as três classes de vaishnavas: respeita e obedece com sentimento de amizade os que são mais avançados que ele em bhakti, relaciona-se com pessoas do mesmo nível como um amigo e também é amistoso com aqueles cuja bhakti ainda não se desenvolveu.

3- Krpa – É misericordioso com os que respeitam os vaishnavas e acreditam neles. Pode ser que estas pessoas tenham uma fé mundana e sentimentos materiais em relação ao guru e deidade; pode ser também que sintam mais afeto pelas deidades do que pelos devotos; e pode ser que entendam que se deve acatar os preceitos das escrituras mas são incapazes de atuar como atua um madhyama-adhikari. Ainda que sejam ignorantes, estas pessoas desejam avançar saber como avançar no serviço devocional.

4- Upeksa – Ignora os ofensores e as pessoas que estão contra os vaishnavas ou não os respeitam. É consciente de que relacionar-se ou associar-se com estas pessoas destrói qualquer sintoma de bhakti.



Falamos das três qualidades principais e também das quatro adicionais que se encontram em um madhyama-adhikari capacitado para ser guru. Srila Jiva Goswami nos adverte no Bhakti-sandarbha, que se alguém aceita um guru para conseguir fama e ganâncias materiais, e um guru aceita discípulos pelo mesmo motivo, ambos cairão. Seu destino é naraka, o inferno.



Srila Sanatana Goswami escreveu:



Avaisnava-mukhodgirnam

Putam hari-kathamrta

Sravanam naiva kartavyam

Sarpocchistam yatha prayah





Não se deve escutar nada que esteja relacionado com Krishna de um não vaishnava. O leite tocado pela boca de uma cobra tem efeitos venenosos. Quando alguém que não é um vaishnava fala de Krishna, suas palavras também são venenosas.



(Padma purana: citado no Bhag.6.17.40)



Se alguém faz alarde de ser vaishnava, mas não respeita os vaishnavas se não que dá importância á fama e ganâncias materiais, deve ser abandonado imediatamente, mesmo se tomou hari-nam e diksa dele. Este suposto guru, é guru apenas na aparência. Isto está explicado no Mahabharata e em outras escrituras. Se não rejeitam este guru, terão que ir ao inferno. Preparam-se para ir. Não se deve desrespeitar nenhum vaishnava; mesmo que se trate de uma kanistha-adhikari, e muito menos um madhyama-adhikari ou um uttama-adhikari. Não se deve associar com alguém que não os respeitam ou os critica. Se alguém diz que é um vaishnava genuíno e o único discípulo genuíno de seu guru mas comete esta ofensa, seu próprio guru, se é autêntico, o rejeitará.

Srila Jiva Goswami dá á todos, um exemplo muito importante. Não devemos pensar que porque há brigas no mundo transcendental, como as brigas das seguidoras de Radhika e as de Candravali, nós também podemos brigar. Nunca devemos tomar partido de alguém e nem brigar.

Mesmo que digam que há diferenças entre Srila Bhakti Prajnana Keshava Goswami Maharaja e Srila Bhakti Vedanta Swami Maharaja, isto não é verdade. Não há nenhuma diferença. Os dois estão na mesma linha de sucessão discipular. Swamiji pregou no ocidente e meu Gurudeva pregou na Índia, mas transmitiram a mesma mensagem. O amor deles por Krishna é o mesmo, seus passatempos são os mesmos e seus serviços á Mahaprabhu são os mesmos. Um estava na Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna e o outro na Gaudiya Vedanta Samiti, mas ambos formam parte de uma família de Sri Chaitanya Mahaprabhu, de modo que não há necessidade de discutir. Não se deve faltar-lhes respeito jamais. Devemos seguir as instruções dos Acharyas e tentar desenvolver nossa consciência de Krishna.





Assim termina a primeira parte do livro “Pinnacle of Devotion”, (assuntos relacionados com Guru-tattva), de Srila Bhaktivedanta Narayana Goswami Maharaja.







(Á pedido de Srila Narayana Maharaja, os devotos cantam o nanda-nandanastakam e o Radha-krpa-kataksa-stava-raja.)





Vocês devem cantar estas duas canções todos os dias como parte de seu sadhana-bhajana. Será muito benéfico se conhecem seu significado e orem com sinceridade. E mesmo que não entendam o significado, Sri Krishna e Srimati Radhika os escutarão. Por cantar o Nanda-nadanastakam, que glorifica Krishna, Radhika sentirá tão feliz, que querendo ou não, lhe dará muitas bênçãos. E quando cantarem o Radha-krpa-kataksa, Krishna sentirá tão feliz, que lhes concederá o que desejam. Se desejam que Krishna escreva seus nomes na lista das servas de Radhika (palya-dasi), ele o fará. Ele está na porta escrevendo a lista das dasis de Srimati Radhika. Devem adicionar estes dois kirtans nas suas práticas diárias de bhajana, seguidos de jaya sri krishna chaitanya e do maha-mantra. Se fazem isto, sua bhakti ficará muito forte.











Capítulo 3







Madhava-tithi, Ekadasi



A mãe de prema-bhakti





Hoje é ekadasi-vrata. Acredito que a maioria de vocês está seguindo corretamente. É muito difícil observar ekadasi completamente, como fez Ambarisa Maharaja, muito difícil. Ele viveu na satya yuga e era tão forte que podia jejuar sem dormir, sem beber e sem sequer respirar, ficava parado em uma só perna. Em kali yuga, não somos tão fortes nem tão avançados, mas somos muito afortunados. Sri Chaitanya Mahaprabhu explicou que se sentimos muita fome no ekadasi, podemos comer frutas, sucos ou leite. Nos dias de ekadasi, não temos que comer constantemente. Uma hora um litro de suco, depois de meia hora outro suco diferente, meia hora depois batatas fritas e outras verduras, depois um grande balde de água, meio kilo de requeijão com açúcar e outro meio kilo de arroz dôce. Temos que comer apenas o necessário.

Devemos permanecer despertos durante o dia e a noite, e passar o ekadasi cantando e lembrando de Sri Krishna, assim como Maharaja Ambarisa fez. Ele era o imperador do mundo inteiro e externamente parecia um homem casado e ocupados em afazeres materiais. Durvasa Muni era um brahmana e um yogi autorealizado; um brahmarsi (sábio) adorador do aspecto impessoal de Deus, e ele tinha muito poder. Seu poder era tanto, que podia amaldiçoar um homem á morrer e também dar vida á um morto. Ele tinha um alto conceito de si mesmo e considerava-se o homem mais poderoso do mundo. “Nasci em uma família brahmínica dentro da dinastia de Sankara. Sou o filho de Atri e Anasuya e Sri Rama e Sita Devi (que é a própria Laksmi), receberam muitas bênçãos dos meus pais.” Mas Durvasa Muni nunca observava ekadasi. Em uma ocasião, em Madhuvana (Mathura), maharaja Ambarisa observou o maha-dvadasi cantando, lembrando, servindo as deidades, orando durante todo o dia e noite, sem beber nem dormir. No dia seguinte, após fazer sua adoração á Sri Krishna e quando estava para quebrar o jejum, Durvasa Muni chegou ao seu palácio. Durvasa parecia um semi-deus, mas não havia observado o ekadasi. Maharaja Ambarisa lhe pediu que quebrasse o ekadasi tomando maha-prasada, depois de que ele tomaria também. “Sim”, disse Durvasa, “mas antes vou tomar um banho no Yamuna. Já volto. Não demoro.”

Mas Durvasa demorou a voltar e quando faltavam apenas alguns minutos para esgotar o tempo de quebrar o ekadasi, Maharaja Ambarisa pensou: “Um brahmana-rsi veio em minha casa. Ele não é uma pessoa ordinária e deveria mostrar-lhe respeito tomando maha-prasada apenas depois de oferecer-lhe. Se não faço isto, estarei desobedecendo as regras da cultura hindu e terei que pagar por isto, mas por outro lado devo observar meu voto de ekadasi apropriadamente. Este voto não é uma atividade mundana, e sim transcendental. Se não o observo tomando maha-prasada no momento correto, poderei perder minha bhakti. Então, devo honrar o brahmana ou bhakti? Após deliberar sobre a situação, ele decidiu honrar bhakti. “Não posso atuar contra bhakti de maneira nenhuma. Mesmo que eu perca algum bem material ou tenha que ir ao inferno, não desrespeitarei o ekadasi. Quebrarei o jejum no momento certo tomando apenas uma gota de água que foi utilizada na adoração do Senhor Krishna (charanamrta).

Se alguém observa o jejum sem tomar sequer água ou suco, pode quebrar o jejum com charanamrta, mas se já estiver tomado água, frutas, leite ou verduras, deve quebrar o ekadasi tomando algum grão. De outro modo o ekadasi não será completo. Maharaja Ambarisa concluiu: “Não tomei sequer água durante minha observância do ekadasi, de modo que posso tomar charanamrta, e ao não tomar grãos, também respeitarei o brahmana.”

No momento que Ambarisa tomava uma gota de charanamrta, Durvasa Muni regressou e ao vê-lo, disse:

Não és um verdadeiro devoto. “Eu sou um brahmana perfeito; você conhece minha origem. Sabe que tenho grandes poderes e apesar disto, se atreveu á faltar-me respeito. Agora mesmo te reduzirei á cinzas.

Dizendo isso, ele arrancou uma mecha de seu cabelo, jogou ao solo e lhe ordenou que se transformasse em uma fogueira. No mesmo instante apareceu ali um demônio de fogo que se dirigiu á Ambarisa Maharaja com a intenção de faze-lo arder em chamas, mas neste momento a Sudarshana Chakra se manifestou. Sri Krishna havia ordenado que seu disco sempre protegeria seus devotos. A chakra destruiu o demônio do fogo, e depois se dirigiu á Durvasa Muni, que começou a correr apavorado.

“Socorro! Socorro!”- gritava ele.

Quando o demônio do fogo se aproximou para mata-lo, Ambarisa cantava sem nenhum temor. “Que eu viva ou morra agora, tudo depende de Krishna”. Ele dependia completamente de Krishna, e por isso a chakra o salvou. Mas Durvasa Muni, apesar de ser um brahmana poderoso e um yogui autorealizado, teve medo da morte e correu. Primeiro tentou refugiar-se em seu pai, O Senhor Shiva, mas ao se aproximar-se, Ele lhe disse: “Sai daqui! Estás metido nesta situação porque faltaste com respeito á um vaishnava. Sei como os vaishnavas são influentes e assim jamais os ofendo de maneira alguma. Se te protejo agora, Sudarshana me atacará também.

Durvasa Muni se dirigiu então ao Senhor Brahma, o qual também negou á ajuda-lo. Finalmente, ele foi até o Senhor Vishnu e orou:

“Ó Vishnu! Salvai-me de tua arma. Refugio-me em ti.

“Não posso fazer nada para te proteger, respondeu o Senhor Vishnu. Não sou livre. Estou subordinado á meus devotos. Eles me deram seus corações e Eu lhes dei o Meu, de modo que não sou independente.”



Aham bhakta-paradhino

Hy asvatantra ivã dvija

Sadhubhir grasta-hrdayo

Bhaktair bhakta-jana-priyah



“A Suprema Personalidade de Deus disse ao brahmana: “Eu dependo completamente dos meus devotos. Na verdade, não tenho a menor independência. Por que eles estão livres de todo desejo material, Eu simplesmente moro no fundo de seus corações. E o que dizer dos meus devotos, mesmo os que são devotos dos meus devotos são muito queridos á mim.” (Bhag.9.4.63)



Quando alguém tem um espinho no pé, não se pode remove-la cortando a cabeça. O Senhor Vishnu disse: “Os vaishnavas são tudo para mim. Fiz o voto de protege-los sempre. Se quer se salvar, deves ir á Ambarisa Maharaja. Não o veja como um homem comum, casado ou como um rei. Ele não é uma pessoa ordinária, se não que é meu devoto querido. Deves oferecer reverências á ele. As pessoas mundanas pensam: “Sou culto, rico e poderoso, enquanto que estes vaishnavas são uns inúteis que não fazem mais do que cantar Hare Krishna. Mas tu, Durvasa, deve se tornar um vaishnava sincero, então Sri Krishna te protegerá e te outorgará krsna-prema”.

Desde que Durvasa saiu correndo da arma do Senhor um ano antes, Maharaja Ambarisa não havia comido nada. Quando Durvasa Rsi finalmente chegou onde se encontrava Ambarisa Maharaja, o rei se desculpou cheio de humildade.

“Não sou nada, não sou um devoto. Desobedeci e te desrespeitei ao quebrar meu jejum.”

Durvasa Muni caiu aos pés de lótus de Maharaja Ambarisa. Imediatamente, Ambarisa o abraçou e lhe pediu que fosse misericordioso e respeitasse a maha-prasada.

Durvasa então disse: “Antes de tudo, oro para que me salve da Sudarshana Cakra. O calor dela está me queimando.”

Ambarisa então disse: “Ó Senhor! Se tenho realizado alguma atividade devocional á Ti, por favor, salva este brahmana.”

Quando Ambarisa Maharaja pronunciou estas palavras, a chakra esfriou e regressou ao Senhor. Durvasa compreendeu então que os devotos são mais poderosos que o próprio Krishna. Krishna outorga todo seu poder aos vaishnavas, mas eles ocultam este fato e enganam os demais se apresentando como pessoas caídas. Trnad api sunicena – mesmo sendo muito poderosos, os devotos são também submissos, generosos e educados.

Assim, Durvasa Rsi tomou a maha-prasada e depois Ambarisa Maharaja também a honrou juntamente com sua família.

Vocês devem ser assim. Devem ser humildes e possuir uma fé firme no serviço devocional á Sri Krishna. Podemos dar nossa cabeça, nossa vida e alma para observar o ekadasi. Ekadasi é a mãe de prema-bhakti e ela nos protegerá. Srila Bhaktivinoda Thakura escreveu: “madhava tithi bhakti janani jatane palana kori.” Os dias sagrados como os dias de ekadasi é a mãe de prema bhakti. Devemos tentar segui-lo da forma mais pura possível. Não devemos comer nem tampouco beber muitas vezes nestes dias. Se possível, devem observa-lo sem sequer tomar um pingo de água (nirjala) ou tomando apenas um pouco de prasada uma vez no dia. Até mesmo as pessoas idosas que tem uma saúde fraca podem observar o nirjala-ekadasi (ekadasi no qual o bhakta não bebe nem come nada). Então, porque vocês que são tão jovens e fortes não podem observar nirjala? Devem tentar observar desta maneira. Mas, se jejuando assim, vocês esmorecem e ficam sonolentos, pouco servirá o nirjala. Nestes dias tão especiais, tentem se lembrar de Krishna, associen-se com os vaishnavas, leiam as escrituras e ofereçam orações dia e noite tal como he krishna karuna sindhu dina bandhu jagat patê gopesa gopika kanta radha kanta namo ´stu te. A observância do ekadasi outorga mais potência espiritual do que o brahma-jnana e o brahma-yoga-samadhi (meditação no aspecto impessoal do Senhor).















Capítulo 4





O mestre espiritual é a manifestação de Krishna.





Agora continuaremos á falar sobre o Chaitanya Charitamrta. Ontem, recitei um verso do Mangala charana do krishna-karnamrta de Bilvamangala Thakura:



Cintamanir jayati somagirir gurur me

Siksa-gurus ca bhagavan sikhi-pincha-maulih

Yat-pada-kalpataru-pallava-sekharesu

Lilá-svayamvara-rasam labhate jayasrih



Todas as glórias á Cintamani e á Somagiri, meu mestre espiritual iniciador. Todas as glórias á meu mestre espiritual instrutor, A Suprema Personalidade de Deus, que carrega uma pena de pavão na sua coroa. Na sombra de seus pés de lótus que são como árvores dos desejos, Jayasri (Radharani) desfruta da doçura transcendental de uma consorte eterna. (Cc.Adi 1.57)



Primeiro ele oferece reverências á Cintamani, que lhe conduziu até Krishna, e depois á Somagiri, seu diksha guru. Chintamani também significa que o guru é uma pedra de toque, porque nos revela Krishna. E Krishna também é seu mestre espiritual instrutor (siksha guru). Este siksha guru se mostra muito charmoso com penas de pavão sobre a cabeça, três linhas na sua barriga, três curvas na cintura e a postura curvada em três pontos. Krishna canta de uma forma muito doce. Seus pés de lótus que são como árvores dos desejos parecem folhas frescas e as unhas de seus pés brilham de maneira muito atrativa. As pontas das unhas dos pés de Krishna são mais belas que os raios da lua e os raios que emanam destas unhas são muito fragrantes. Jayasri refere-se á Srimati Radhika. Ela entrega seu coração, vida e alma á Krishna. Oferecendo sua vida milhões e milhões de vezes, ela faz o arati aos raios que emanam das unhas dos pés de lótus de Krishna, e ao faze-lo, sente a mesma felicidade como se fosse seu svayamvara. O que significa svayamvara?



Devoto: É uma cerimônia para se eleger o esposo.



Srila Narayana Maharaja: Não exatamente. Falarei agora do svayamvara de Sri Krishna. Em uma ocasião, Draupadi se encontrou com as rainhas de Krishna- Satyabhama, Rukmini, Laksmana, etc.. em Kuruksetra e lhes pediu que relatassem como elas haviam se casado com Krishna. Laksmana descreveu então o seu caso. Ela era a filha amada de um poderoso Rei que consciente do charme e de muitos talentos que sua filha tinha, partiu em busca de um esposo equivalente. Para isto, botou na terra um pilar bem alto, e na ponta dele colocou um disco giratório com um peixe artificial em cima. O rei prometeu dar a mão da filha em casamento á quem conseguisse acertar o olho do peixe, mirando apenas através de um recipiente de água. Os melhores arqueiros do mundo estavam presentes: Krishna, Baladeva, Karna, Duryodhana, Jarasandha, Sisupala, Bhima, Nakula, Sahadeva, Arjuna e outros.

Arjuna disparou resolutamente, mas sua flecha tocou apenas as costas do peixe. Então, Krishna se adiantou e fez um movimento tão rápido, que ninguém pôde ver sequer o momento em que ele levantou seu arco. Krishna disparou a flecha exatamente no olho direito do peixe. Laksmana disse á Draupadi: “Neste momento me sentí muito afortunada. Depois minhas amigas me deram uma guirlanda para que eu a colocasse em meu esposo. Então, svayamvara, é uma antiga tradição hindu, na qual se seleciona o noivo entre muitos pretendentes. No svayamvara de Laksmana havia centenas de milhares de jovens e príncipes cheios de boas qualidades, porém ela havia escutado sobre as glórias de Krishna e á Ele entregou seu coração. Quando Krishna disparou a flecha no olho do peixe, o rosto dela iluminou-se e seus véus caíram. Extasiada por uma benção sem precedentes, lançou um olhar de soslaio, e Ele, que está sempre buscando por jovens charmosas, também olhou para Laksmana. O êxtase que ela sentiu foi tão grande que quase perdeu a sua consciência externa e incapaz de levantar até mesmo os braços, necessitou da ajuda de suas amigas para por a guirlanda no seu amado.

Srila Bilmangala Thakura explicou que Srimati Radhika também experimenta prazer ilimitado quando serve os raios que emanam das unhas dos pés de lótus de Krishna. Mesmo assim, Srila Prabhodananda Sarasvati, Srila Rupa Goswami e outros vaishnavas da nossa linha de sucessão discipular, não gostam de ouvir que Radhika serve Krishna. Eles preferem que Krishna seja feliz servindo os pés de lótus de Radhika. Eles querem ver Krishna suplicando para ter esta oportunidade. Quem é Krishna? Srila Prabodhananda Sarasvati escreve:



Vamsi karan-nipatitah skhalitam sikhandam

Brastam ca pita-vasanam vraja-raja-sunoh

Yasyah kataksa-sara-phata vimurcchitasya

Tam radhikam paricarami kada rasena



Ferido pelas flechas das olhadas de soslaio de Srimati Radhika, o filho do rei de Vraja perde o conhecimento. A flauta cai de suas mãos, sua pluma de pavão real perde a postura e suas roupas amarelas ficam desalinhadas. “Quando, cheio de devoção, poderei servir Srimati Radhika?” (Radha-rasa-sudha-nidhi 39)



Um dia, ao passar por uma bela árvore enquanto pastoreava as vacas, Krishna viu que Radhika o olhava de soslaio. Os olhos de Radhika, eram como arcos lançando flechas de prema e fez com que Krishna perdesse o controle de si mesmo. Sua flauta caiu de suas mãos e as penas de pavão real caiu da sua cabeça. Krishna perdeu o conhecimento e seu corpo estremeceu. Ao vê-lo nesta situação, Madhumangala lhe deu um ‘toque’.

_ “Amigo, Que está fazendo? Nanda Baba, Yashoda Maiya e muitos outros estão aqui. Não pode se comportar assim diante deles”.

Krishna se recompôs logo.

Srila Prabodhananda Sarasvati ora: “Desejo servir esta Srimati Radhika. Seu véu transporta a fragância do seu corpo até o nariz de Krishna e ao perceber esta fragrância, Ele perde o controle”.

O amor e afeto de Radhika é maior que o de Krishna. Mesmo que Bilvamangala Thakura descreva que Krishna é superior, os Acharyas que estão na linha de Rupa Goswami desejam que Radhika sempre saia vitoriosa. “Jay Radhe!”

Bilvamangala Thakura ora á Sri Krishna como seu siksha-guru. “Que tipo de siksha-guru? Chaitya-guru. Nos seus passatempos, Krishna descende como siksha-guru. Ele tornou-se guru para Arjuna e para as gopis por exemplo. Ele é tão misericordioso que escuta todas as orações dos devotos. O primeiro dever dos devotos é ter uma fé inquebrantável nele. Bilvamangala Thakura e Srila Rupa Goswami são exemplos de devotos que possuem este tipo de fé.

Rupa Goswami e Sanatana Goswami falavam apenas sobre as glórias de Radha e Krishna. Em uma ocasião, Srimati Radhika os adverteu que já era meio dia e não havia comido nada. Apareceu diante eles como uma menina e disse:

_ Não prepararam nada para comer hoje. Vocês estão jejuando hoje? Minha mãe me deu os ingredientes para que vocês preparem arroz com leite.

Mas nenhum dos dois tinha tempo para preparar a refeição e a própria Radharani na forma desta menina se ofereceu para faze-la. Ela pegou um esterco de vaca e em um piscar de olhos um fogo se manifestou. Em um momento, Ela preparou um delicioso ksira e o levou á Rupa Goswami.

“Por favor, oferece este ksira á sua deidade e depois toma a metade e dá a outra metade á seu irmão.”

Momentos depois, Sanatana Goswami começou a suspeitar daquela menina. “Rupa, você orou á sua Radhika para que viesse aqui?”. “Não”.

Ela veio e cozinhou para nós. Prova esta prasada. Só pode ter sido preparada por ela. Enquanto tomavam a prasada, não paravam de chorar um instante.

“Agora ela se foi, e perdemos nossa oportunidade de oferecer nossas reverências e de servi-la. Ao invés disto, fizemos Ela cozinhar para nós”.

Srila Sanatana Goswami disse ao seu irmão: “Rupa, na próxima vez não faça isto de novo.”

A devoção deles era tão grande! Vocês devem tentar seguir seus passos. Devemos tentar servir o Casal Divino, Sri Radhika e Sri Krishna, sempre lembrando passatempos como estes.

Srila Krishna das Kaviraja Goswami explica que o guru iniciador (diksha-guru) é a forma (rupa) de Krishna, e o guru instrutor (siksha-guru) é sua eterna identidade (svarupa). Mesmo que ambos sejam mestres espirituais liberados, pode ser que algumas vezes o siksha ou o diksha-guru seja mais elevado que o outro.

Agora, explicarei a manifestação de Krishna como devoto:



Isvara-svarupa bhakta tanra adhisthana

Bhaktera hrdaye krsnera satata visrama



Um devoto puro constantemente dedicado ao serviço amoroso ao Senhor é idêntico ao Senhor, pois está sempre em seu coração.



(Cc.Adi 1.61)



Os gurus diksha e siksha são manifestações não diferentes de Sri Krishna. Os bhaktas também não são pessoas comuns. Eles são a morada de Sri Krishna. São o assento, a roupa e a cama de Krishna. Krishna pode descansar em seus corações porque são puros e estão livres de desejos mundanos. Em seus corações não há sofrimentos nem problemas, assim como os corações de Rupa e Sanatana Goswami. Eles não desejam nada além de Krishna, e por isso Krishna deseja descansar em seus corações e dormir ali tranquilamente.

Os corações do jnanis, dos karmis e dos yoguis estão cheios de desejos materiais. “Ó Krishna, dá-me uma bela esposa! Ó Krishna! Não tenho nenhum filho. Ó Krishna! desejo a liberação”. Mas os devotos puros de Krishna não desejam nada para si mesmos. Eles só desejam que sua bhakti aumente cada vez mais. Estas seis manifestações; Krishna, o diksha e o siksha guru, os devotos, as diversas energias, as encarnações e as porções plenárias, são o próprio Krishna que aparecem separadamente para que Ele execute seus passatempos. São bheda e abheda, diferentes e não diferentes. Isto é conhecido como acintya-bhedabheda-tattva.



Vadanti tat tattva-vidas, tattvam yaj jnanam advayam, brahmeti paramatmeti, bhagavan iti sabdyate. Kaviraja Goswami explica quem é Krishna. Leia por favor o significado por Srila Swami Maharaj:



Devoto lê o verso: Os sábios transcedentalistas que experimentam a Verdade Absoluta dizem que Ela é conhecida como brahmam impessoal, Paramatma localizado e como a Personalidade de Deus Sri Krishna.



Significado: Este verso em sânscrito aparece no segundo capítulo do primeiro canto do Srimad Bhagavatam (verso 11), onde Suta Goswami responde as perguntas dos sábios liderados por Saunaka Rsi, em relação á essência das instruções escriturais. Tattva-vidah refere-se ás pessoas que conhecem a Verdade Absoluta. Elas tem uma perfeita compreensão do conhecimento.



Srila Narayana Maharaja: Narada, Veda Vyasa, Brahma, Sankara e Sukadeva Goswami são tattva-vit; conhecem a essência das escrituras védicas.



Devoto segue lendo: Eles podem entender o conhecimento não dual porque estão situados na plataforma espiritual. A Verdade Absoluta é conhecida as vezes como brahman e outras como Bhagavan. Os conhecedores da verdade sabem que aqueles que tentam aproximar do Absoluto através da especulação mental, acaba compreendendo o brahman impessoal, aqueles que praticam yoga experimenta Paramatma, mas aqueles que tem conhecimento espiritual completo experimenta a forma espiritual de Bhagavan, a Personalidade de Deus.

Os devotos da Personalidade de Deus sabem que Sri Krishna, o filho do rei de vraja, é a Verdade Absoluta. Eles não vêem diferenças entre o nome, a forma, as qualidades e os passatempos de Sri Krishna. Aqueles que separam o nome, forma e qualidades do Senhor, carecem de conhecimento absoluto. Um devoto puro sabe que quando canta o nome transcendental de Krishna, Ele está presente na forma do som transcendental......



Srila Narayana Maharaja: Sim. Podem lembrar o seguinte:



Yaha, bhagavata pada vaisnavera sthane

Ekanta asraya kara caitanya-carane



“Se desejas entender o Srimad Bhagavatam (disse Svarupa Damodara) , deves aproximar de um vaishnava auto-realizado e escuta-lo. Podes fazer isto após refugiar completamente aos pés de lótus de Sri Chaitanya Mahaprabhu.” (Cc. Antya 5.131)



Não tentem compreender a vida espiritual apenas através dos livros. O Vedanta, o Srimad Bhagavatam, o Sri Chaitanya Caritamrta e os livros de Swamiji contém tudo, mas o conhecimento está trancado á sete chaves, chaves muito poderosas. E como não estamos muito preparados, pela simples leitura destes textos não podemos compreender seu significado. Há duas classes de bhagavata, o grantha-bhagavata (as escrituras) e o bhakta-bhagavata (os vaishnavas). O grantha bhagavata está trancado com chave e apenas a alma auto-realizada (bhakta bhagavata) pode revelar seu significado.

É necessário a associação dos devotos puros. Eles são mais misericordiosos do que o Srimad Bhagavatam, e sob sua guia, podemos realizar a misericórdia do Srimad Bhagavatam e Sri Krishna. Sem isto nada é possível.



Vadanti tat-tattva-vidas

Tattvam yat jnanam advayam

Brahmeti paramatmeti

Bhagavan iti sabdyate



(Srimad Bhagavatam 6.2.11)



A verdade absoluta é realizada em três estágios de entendimento pelo conhecedor da verdade absoluta, e todos eles são idênticos.

Estes estágios de compreensão da verdade absoluta são expressos como Brahman, Paramatma e Bhagavan. É essencial por anos escutar muito atentamente e guardara estes ensinamentos nos nossos corações. Aqueles que conhecem esta verdade estabelecida, como, Narada, Vyasa, Sankara, Sanaka, Sanatana, e Srila Rupa Goswami, concluíram que nada está separado de Krsna. Esta verdade estabelecida é chamada de advaya-jnana-tattva, é o principio essencial que Krsna é um sem um segundo.

Todos são subordinados a Krishna. Incluindo Baladeva e todas as outras encarnações, todos os semi-deuses, e todas as entidades vivas, descendo ate os vermes e plantas. A ilusória natureza material, maya é também subordinada a Ele. Nenhuma entidade viva neste ou em qualquer mundo são independentes. Apenas Krishna é independente. Tudo que vemos é manifestação do seu poder.

Srimati Radhika é o poder de Krishna, e Lakshmi Devi é a manifestação de Radhika. Nós Jivas neste mundo material também estamos conectados com Krishna. Este princípio é chamado unidade na diversidade. Conhecedores desta verdade fundamental entenderam que a verdade absoluta é Sri Krishna.

Srila Krishna Das Kaviraj citou o verso acima do Srimad Bhagavatam (1.2.11) Aqueles que possuem conhecimento impessoal vê a verdade absoluta como Brahman. O que é Brahman? É o reflexo pervertido dos raios provindos das unhas dos pés de Sri Krishna. Isto não tem qualidade, forma ou passatempo. Paramatma, a super-alma, que vive no coração de todas as entidades vivas, é uma parte da eternidade de Krishna. Ela é uma pequena fração de Krishna.



Ete camsa-kalah pumsah

Krsnas tu bhagavan svayam

Indrari-vyakulam lokam

Mrdayanti yuge yuge



(Srimad Bhagavantam 1.3.28)



“Todas as encarnações mencionadas são porções plenárias ou porções das porções plenárias de Deus, mas Deus, Sri Krishna, é a personalidade original de Deus.”



Todos eles aparecem no planeta quando há um distúrbio provocado pelos ateístas. Deus encarna para proteger os teístas.

Sri Krishna é a suprema personalidade de Deus, A Suprema Personalidade da Verdade Absoluta Srimad Bhagavatam e outras escrituras confirmam este verso do Brahma Samhita:





Isvarah paramah krsnah

Sac-cid-ananda-vigrahah

Anadir adir govindah

Sarva karana-karanam



“Existem tantas personalidades que possuem as qualidades de Bhagavan, mas Krishna é o Todo Supremo. Ele é a pessoa Suprema, e seu corpo é eterno, cheio de conhecimento e de êxtase. Ele é o Deus primordial, Govinda, e é a causa de todas as causas.”



A primeira manifestação de Krishna é Baladeva Prabhu em vraja. De Baladeva Prabhu em Vrindavana; mulasankarsana (Baladeva em Dvaraka e Mathura), maha-sankarsana (Narayana, Maha-Vishnu, Kshirodakasay Vishnu, Sesa) e assim este mundo material tem se manifestado.

Este mesmo Krishna, A Suprema Personalidade da Absoluta Verdade advém como Sri Chaitanya Mahaprabhu, e seu poder supremo, Srimati Radhika, vem como Gadadhara Pandit.

Título original “Pinnacle of devotion” chapter 1-4.

Autor- Yuga Acharya Bhaktivedanta Narayan Goswami Maharaj

Tradução- Baladeva Das Brahmacari

Para livros por email em português e demais informações- nabadvip@gmail.com

Keshavji Gaudiya Math (B.H)





















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