Introdução
Este pequeno livro consta de uma palestra sobre o
Srimad Bhagavat (Escritura Sagrada e proeminente no Vaishnavismo) concedida por
Srila Thakur Bhaktivinode para uma grande congregação constituída de homens
cultos e religiosos de várias culturas e nacionalidades, incluindo alguns
homens ingleses. Esta palestra aconteceu no ano de 1869 na cidade de Dinajpur
(Bengala Ocidental) onde o palestrante e presidente da congregação (Bhaktivinod
Thakur) era um ilustre oficial do Governo da Bengala. Ele era creditado como sendo
a maior autoridade capaz de explicar o verdadeiro significado do Bhagavat e
defender a posição única do mesmo, filosóficamente, éticamente e teológicamente,
porque em todos estes aspectos a religião
Gaudiya Vaishnava é baseada no Bhagavat assim como foi propagado por Sri
Krishna Chaitanya Mahaprabhu. Sriman Mahaprabhu manifestou este Srimad Bhagavat
como sendo uma invencível e imaculada autoridade no estabelecimento da Verdade
Absoluta.
Srila
Bhaktivinod Thakur não é um homen mortal e sim o eterno companheiro e o mais
amado de Sriman Krishna Chaitanya Mahaprabhu. Sriman Mahaprabhu o enviou a este
plano mundano devido a Sua infinita misericórdia com o objetivo de resgatar a
humanidade sofredora através da sua conduta divina e transparente. Ele é o mais
inteligente expoente dos ensinamentos do Srimad Bhagavat e consequentemente
suas palavras carregam uma irresistível convicção na audiência.
Srila
Bhaktivinod Thakur foi considerado um pioneiro
entre os mensageiros de Deus no domínio religioso da Bengala. Esta palestra tem
sido uma benção para o público de língua inglesa pois os conduz a entrar de
maneira direta e profunda nos segredos do Bhagavat, sem que haja necessidade de
aprender o sanscrito e ler os 18.000 versos do Srimad Bhagavat. O Bhagavat explica
sobre a eterna religião e permanece único e Supremo como o grande evangelho da igreja
Universal e ao mesmo tempo supre o fruto nectáreo da magnificente árvore dos
Vedas e do Vedanta para as proeminentes almas afortunadas. Aqueles que são
devotados, que possuem uma atenção cuidadosa e um entendimento claro, vão
certamente se beneficiar do estudo desta palestra.
Esta
palestra foi primeiramente publicada no século passado. Depois foi novamente
impressa em 1936 pelo ilustre sucessor de Srila Bhaktivinod Thakur- Sua Divina
Graça Paramahamsa Sri Srimad Bhaktissidhanta Saraswati Goswami Prabhupad, o
fundador presidente da grande Missão Gaudiya que propagou os ensinamentos de Srila
Thakur. Anos se passaram e sentimos a necessidade de republicar esta rara
literatura devocional de utilidade pública.
Calcutta, 7 de junho,
1959 Jagaduddharan
Dasadhikary Bhaktibandhab
Na introdução para o seu livro (Krishna Samhita)
Thakur Bhaktivinod escreveu o seguinte:
“Os princípios religiosos ditados por Maomé
e Jesus Cristo são similares aos princípios religiosos ditados pelas seitas
Vaishnavas. Esta é uma consideração científica das verdades sobre os princípios
religiosos. Aqueles que consideram seus próprios princípios religiosos como
verdadeira religião e considera que outros princípios religiosos são ireligião
ou sub-religião, são incapazes de descobrir a verdade devido ao fato de estarem
influenciados pelo preconceito. Na verdade, os princípios religiosos seguidos pelas
pessoas em geral difere apenas devido ás diferentes qualificações dos
praticantes, porém os princípios religiosos constitucionais de todas as entidades
vivas é apenas um. Para as pessoas que são como cisnes, não é apropriado
rejeitar os princípios religiosos seguidos pelas pessoas em geral em acordância
com sua respectiva situação. Então, com o devido respeito aos princípios
religiosos seguidos pelas pessoas em geral, vamos agora discutir os princípios
religiosos constitucionais das entidades vivas”.
“Diferenças que aparecem de acordo com
lugares, tempos, línguas, comportamentos, comidas, vestimentas e naturezas de
várias comunidades, são incorporadas nas práticas espirituais das pessoas e
gradualmente faz com que uma comunidade seja tão completamente diferente da outra
que até mesmo a consideração de que todos são seres humanos pode deixar de existir.
Devido a estas diferenças há descordâncias, fim do intercâmbio social e brigas
até mesmo ao ponto de um matar o outro. Quando a mentalidade de asno se torna
proeminente entre os neófitos, eles certamente criam estas coisas. Se os
devotos intermediários que possuem mentalidade de cisne tem o desejo de
alcançar um nível superior, eles respeitarão as outras práticas e questionarão
sobre tópicos elevados.
Na verdade, contradições aparecem apenas
devido a mentalidade de asno. As pessoas que são como cisnes consideram a
necessidade de diferentes práticas de acordo com a qualificação de cada um.
Assim eles são naturalmente desapegados de brigas sectárias. Se os neófitos e
os devotos intermediários se tornassem completamente indiferentes em relação ás
contradições encontradas nas diferentes práticas e tentassem avançar mais e
mais, eles se tornariam pessoas com mentalidade de cisne (O cisne consegue
extrair apenas leite mesmo que este já esteja misturado com a água). Então
estes são nossos respeitáveis e queridos amigos. Mesmo que eles aceitem uma
particular prática de acordo com as instruções que receberam desde o nascimento
ou infância, ainda sim eles sempre permanecerão indiferentes e não-sectários.”
Então, as escrituras sagradas nos dizem que Deus é Um sem
que haja outro(s). Não é pelo fato de Deus ser chamado por diferentes nomes
(Deus, Alá, Jeová, Vishnu, Krishna etc...) de acordo com as Suas específicas
qualidades e a língua regional, que Ele se torna mais de um. Em uma conferência
inter-religiosa em Israel no ano de 2006, o Rabino chefe do estado disse: “Sabemos
que os verdadeiros Hindus adoram um só Deus e não vários como muitos pensam.
Assim como nós, eles são monoteístas e todos nós adoramos este mesmo Deus. Compreender
este fato é de extrema importância para que a paz reine entre os povos”.
Dedicando ao meu Santo Mestre Espiritual- Sri Srimad Bhaktivedanta Narayan
Goswami Maharaj,
Baladev Das
Brahmachari
Sumangala
Gaura Janmotsava - Belo Horizonte, 16/03/2014
Início
Amamos ler um livro que nunca havíamos lido
antes. Ficamos ansiosos em obter qualquer informação nele contida. E com tal
obtenção feita, nossa curiosidade cessa. Este espírito de estudo prevalece
entre um grande número de leitores que são grandes homens em sua própria
apreciação, bem como daqueles que lhes são semelhantes. De fato, as maiorias
dos leitores são meros repositórios de fatos ou afirmações feitas por outras
pessoas. Mas isto não é estudo. O estudante deve ler os fatos visando criar e
não com o objetivo de retenção infrutífera. Os estudantes, como satélites,
devem refletir qualquer luz que tenham recebido dos autores, e não aprisionar
os fatos e pensamentos assim como os magistrados aprisiona os criminosos na
cadeia!
O pensamento é progressivo. O pensamento do autor deve progredir no pensamento do leitor na forma de correção ou desenvolvimento. O melhor crítico é aquele que pode mostrar o desenvolvimento subseqüente de um velho pensamento, mas o mero denunciador é inimigo do progresso e conseqüentemente da natureza. “Comece de novo” diz o crítico, porque este material antigo não responde no presente. Deixe que o velho autor seja cremado, pois seu tempo já passou. Estas são as expressões superficiais. Progresso certamente é a lei da natureza e com certeza deve haver correções e desenvolvimento no decorrer do tempo. Mas progresso também significa ir adiante ou elevar-se cada vez mais.
O pensamento é progressivo. O pensamento do autor deve progredir no pensamento do leitor na forma de correção ou desenvolvimento. O melhor crítico é aquele que pode mostrar o desenvolvimento subseqüente de um velho pensamento, mas o mero denunciador é inimigo do progresso e conseqüentemente da natureza. “Comece de novo” diz o crítico, porque este material antigo não responde no presente. Deixe que o velho autor seja cremado, pois seu tempo já passou. Estas são as expressões superficiais. Progresso certamente é a lei da natureza e com certeza deve haver correções e desenvolvimento no decorrer do tempo. Mas progresso também significa ir adiante ou elevar-se cada vez mais.
Agora, se seguimos nosso crítico tolo,
seremos obrigados a voltar ao nosso antigo terminal e começar uma nova corrida
e depois que corrermos a metade do caminho, outro crítico do seu celeiro lamentará:
“Comece de novo, porque pegamos a estrada errada!” Assim nosso estúpido crítico
nunca nos permitirá ir adiante por todo o caminho e ver o que há no próximo terminal.
Assim pois, o crítico superficial e o leitor infrutífero são dois grandes
inimigos do progresso. Devemos nos esquivar deles. O verdadeiro e bom crítico por outro lado,
aconselha-nos a manter aquilo que já obtivemos e ajustar o ângulo da nossa
marcha a partir do ponto de onde chegamos. Ele nunca nos aconselhará a voltar
ao ponto de onde começamos uma vez que neste caso haveria uma perda infrutífera
do nosso precioso tempo e trabalho. Ele orientará o ajuste do ângulo da nossa
marcha a partir do ponto onde estamos. Esta também é a característica do
estudante útil. Ele lerá um velho autor e encontrará sua posição exata no
progresso do pensamento. Ele nunca nos aconselhará a queimar um livro sob
alegação de que possui pensamentos inúteis. Nenhum pensamento é inútil. Os
pensamentos são meios pelos quais alcançamos nossos objetivos. O leitor que
denuncia um mal pensamento não sabe que até mesmo uma má estrada é capaz de
melhorar e desembocar em uma boa. Um pensamento é uma estrada que leva a outra.
Assim, o leitor observará que um pensamento que está em pauta hoje, será o meio
de um objeto subseqüente amanhã. Os pensamentos necessariamente continuarão a
ser uma interminável série de meios e objetos no progresso da humanidade. Os
grandes reformadores sempre afirmaram que vieram não para destruir a antiga
lei, mas para cumpri-la. Valmiki, Vyasa, Platão, Jesus Cristo, Maomé, Confúcio
e Chaitanya Mahaprabhu afirmam este fato expressamente ou por suas próprias
condutas.
O Bhagavat assim como todas as obras
religiosas e escritos filosóficos dos grandes homens tem sofrido a imprudente
conduta dos leitores inúteis e dos críticos estúpidos. O Bhagavat tem sofrido
com estas críticas superficiais, tanto na Índia quanto no ocidente. Nós mesmos
somos testemunha deste fato. Quando estávamos no colégio lendo os trabalhos
filosóficos ocidentais e trocando idéias com os pensadores daquele tempo, nós
começamos a ter ódio do Bhagavat. A grande obra literária nos parecia um
repositório de idéias dificilmente adaptável para o século 19 e odiávamos
escutar qualquer opinião a seu favor. Para nós, um volume de Channing, Parker,
Emerson ou Newmen tinha muito mais importância do que todos os milhares de
livros Vaishnavas. Estudávamos com entusiasmo a Santa Bíblia e os escritos de
Tattva-Bodhini Sabha, que continha partes dos Upanisads e do Vedanta, mas
nenhum livro Vaishnava despertava nosso interesse. Mas quando avançamos em
idade e nosso sentimento religioso se desenvolveu, nós nos juntamos de maneira
unitária em nossas crenças e oramos assim como Jesus orou no jardim.
Acidentalmente (ou conseqüentemente) nos deparamos com os escritos do Grande
Chaitanya-dev e lendo isto com atenção para saber qual era a histórica posição
daquele poderoso gênio de Nadiya, tivemos a oportunidade de estudar seus
comentários do Bhagavat que foi dado aos Vedantistas da escola de Benares. O
acidental estudo despertou nosso amor por todos os escritos que podíamos
encontrar sobre o nosso Salvador oriental. Os comentários que encontramos do
Bhagavat eram de um caráter tão charmoso que procuramos uma cópia completa Dele
e então o estudamos completamente com a assistência dos famosos comentários de
Sridhar Swami. Foi deste estudo que extraímos o entendimento da real doutrina
dos Vaishnavas. Oh! Como foi custoso nos desvencilhar dos empecilhos acumulados
naqueles anos infrutíferos!
Até onde podemos entender, nenhum inimigo do
Vaishnavismo encontrará qualquer beleza no Bhagavat. O verdadeiro crítico é um
julgador generoso, desprovido de pensamentos prejudiciais e espírito
partidário. Alguém que é um fervoroso seguidor de Maomé, vai certamente pensar
que as doutrinas do novo testamento são uma farsa concedida pelo anjo caído. Um
Cristão trinitário por outro lado denunciará os ensinamentos de Maomé como
provindo de um reformador ambicioso. A simples razão disto é que o crítico deve
ter a mesma disposição mental do autor cujo mérito é requisitado para julgar.
Pensamentos possuem diferentes caminhos. Uma pessoa que é treinada nos
pensamentos da Sociedade Unitária ou do Vedanta da escola de Benares, vai muito
raramente encontrar piedade na fé dos Vaishnavas. Um Vaishnava ignorante por
outro lado, cujo negócio é apenas mendigar de porta em porta em nome de
Nityananda, não encontrará nenhuma piedade em um Cristão. Isto acontece porque
o Vaishnava não pensa da maneira que o Cristão pensa em sua própria religião.
Pode ser que o Cristão e o Vaishnava pronunciarão o mesmo sentimento, mas eles nunca
cessarão suas brigas um com o outro apenas porque eles chegaram a suas
conclusões através de diferentes linhas de pensamentos. Assim uma grande porção
de ingenerosidade entra nos argumentos dos piedosos Cristãos quando estabelecem
suas imperfeitas opiniões sobre a religião dos Vaishnavas. Qual exemplo poderia
ser melhor do que o fato de que o grande filósofo de Benares não encontra
nenhuma verdade na universal irmandade do homem e na comum paternidade de Deus?
O filósofo, seguindo sua própria forma de pensar nunca poderá ver a beleza da
fé Cristã. A maneira que Jesus Cristo pensou em seu próprio Pai era amor
absoluto e enquanto o filósofo não adotar esta maneira de pensar ele será
sempre deprivado da fé absoluta pregada pelo Salvador do Ocidente. De forma
similar, um Cristão precisa adotar a maneira de pensar na qual o Vedantista se
baseia antes que ele possa amar as conclusões do filósofo. O crítico deve então
ter uma compreensiva, boa, generosa, imparcial e simpática alma.
“Que tipo de coisa é essa ‘O Bhagavat’?”,
pergunta o cavalheiro europeu que recentemente chegou à Índia. Seu amigo lhe
diz com um olhar sereno que o Bhagavat é um livro, o qual seu amigo de Orissa
recita diariamente à noite para alguns ouvintes. Isto é composto de gírias
não-inteligentes e uma literatura primitiva daqueles homens que pintam seus
narizes com um pouco de barro ou sândalo e colocam colares de contas ao redor
do pescoço procurando salvação para si mesmo. Um outro amigo que viajou um
pouco pelo interior, iria imediatamente contradizê-lo e diria que o Bhagavat é
uma obra escrita em Sânscrito que é clamada por uma classe de homens- os Goswamis, que outorgam mantras ao povo
comum da Bengala assim como o papa faz na Itália, e perdoa seus pecados sob o
pagamento em forma de ouro para manter suas despesas sociais. Um terceiro
cavalheiro repetirá uma terceira explicação. Um jovem Bengali educado nos
pensamentos e idéias inglesas e completamente ignorante sobre a história Pré-Muçulmana
do seu próprio país, irá adicionar uma outra explicação dizendo que o Bhagavat
é um livro composto pela história da vida de Krishna, que era um homem imoral e
ambicioso! Isto é tudo que ele pôde aprender da sua avó nos tempos em que ainda
não ia á escola! Assim, o grandioso Bhagavat permanece sempre desconhecido dos
estrangeiros assim como o elefante cego de seis anos que firmemente agarra várias
partes do corpo da sua presa. Porém a Verdade é eterna e nunca pode ser manchada,
a não ser por enquanto, pela ignorância.
O que o Bhagavat realmente é?
O próprio Bhagavat nos diz o
que ele é:
“O Bhagavat é o fruto da árvore do
pensamento (Vedas) misturado com o néctar das palavras de Shukadev. Ele é o
templo do amor espiritual! Ó homem piedoso! Tome profundamente este néctar do
Bhagavat repetidamente até que você seja resgatado deste plano mortal.”
O Garuda Purana e o Bhagavat dizem
novamente:
“O Bhagavat é composto de 18.000 versos.
Ele contém a melhor parte dos Vedas e do Vedanta. Qualquer um que saboreou este
doce néctar, nunca mais desejará ler qualquer outro livro religioso.”
Todo leitor pensativo certamente repetirá
este elogio. O Bhagavat é o livro proeminente na Índia. Uma vez que você
adentra Nele, será transportado como se fosse ao mundo espiritual onde a
matéria grosseira não possui existência. O verdadeiro seguidor do Bhagavat é um
homem espiritual que já cortou sua temporária conexão com a natureza fenomenal
e fez de si mesmo um habitante daquela região onde Deus existe eternamente e
ama. Este poderoso trabalho (Bhagavat) tem como sua fundação a inspiração, sua
super-estrutura e a reflexão. Para o leitor comum ele não tem nenhum charme e é
cheio de dificuldades. Somos então obrigados a estudar ele profundamente
mediante a assistência dos grandes comentadores como Sridhar Swami e o Divino
Chaitanya assim como seus contemporâneos seguidores.
O que o Grande Pregador de Nadiya diz
sobre a fundação do Bhagavat?
Agora, o Grande Pregador de
Nadiya, que tem sido definido por seus talentosos seguidores, nos diz que o
Bhagavat é fundado sob os quatro versos que Vyasa recebeu de Narada- o mais
erudito dos seres criados. Ele diz ainda que Brahma meditou sobre todo o universo
da matéria por anos e anos procurando a causa final do mundo, mas quando ele
falhou em entender isto, ele olhou para a construção da sua própria natureza
espiritual e ali ele escutou o Espírito Universal falando para ele as seguintes
palavras:
“Tome, Ó Brahma! Estou lhe dando o conhecimento
do meu próprio ser, da minha relação e fases, assuntos que são de difícil
acesso. Você é um ser criado, então não é fácil para você aceitar o que eu lhe
dei, porém eu lhe dou o poder de aceitar e assim você tem a liberdade de
compreender a minha essência, minhas idéias, minha forma, minha propriedade e
minha ação, juntamente com minhas várias relações com o conhecimento
imperfeito. Eu sempre existi desde antes que todas as coisas espirituais e
materiais foram criadas, e depois de criadas eu continuo nelas na forma da sua
existência e veracidade, e quando elas se forem eu continuarei completo como Eu
era e como Eu sou. Tudo que parece ser real mas que de fato não é, e tudo que
apesar de ser real não é percebido, são mágicas da minha energia ilusória da
criação, tais como; a luz e a escuridão do mundo material.”
Como explicar e compreender o Bhagavat
Quando o grande Vyasa efetuou os arranjos
dos Vedas e dos Upanisads, completou os 18 Puranas composto de fatos reunidos
das recordadas e não recordadas tradições das eras, compôs o Vedanta e o imenso
Maha Bharata- um épico poema de grande celebridade, ele começou a meditar sobre
suas próprias teorias e preceitos e chegou à conclusão que até aquele momento
ele não havia apresentado a verdadeira verdade. Ele se voltou ao seu próprio
ser e procurou sua própria natureza espiritual e foi então que a verdade foi
comunicada a ele para seu próprio bem e para o bem de todo o mundo.
Imediatamente o santo percebeu que suas
obras anteriores necessitavam sobreposição, pois elas não continham a verdade
por inteiro e sim uma obscuridade da verdade. Nesta nova idéia ele conseguiu o
desenvolvimento da sua antiga idéia de religião. Por este fato, esperamos que
nossos leitores percebam a posição que o Bhagavat deleita na biblioteca dos
trabalhos de Teologia Hindu.
As três grandes verdades da religião
absoluta
De acordo com o nosso Grande Chaitanya, esta
incomparável obra nos ensina as três grandes verdades que compõem a religião
absoluta do homem. Nosso pregador de Nadiya as classificou como: 1- Sambandha (a relação entre o criador e o
criado), 2- Abidheya (o dever do
homem para com Deus) e 3- Prayojan (o
objetivo da humanidade). Estes três termos sumarizam todo o oceano de conhecimento
humano que tem sido explorado até os dias de hoje do progresso da humanidade.
1-
Sambandha
O primeiro ponto cardial
estabelece o conhecimento da relação existente entre o Criador e Sua Criação,
que não é percebida pelas almas condicionadas (entidade viva ainda presa á
matéria), pois elas estão sob o controle de maya,
a envolvente energia do Criador.
Em todos os doze cantos e suas divisões, o
Bhagavat nos ensina que há apenas um Deus, sem que haja um segundo. Ele é
completo em si mesmo e sempre permanecerá o mesmo. Tempo e espaço, que
prescrevem condições aos objetos criados, estão muito abaixo da Sua Natureza
Espiritual Suprema que é não condicionada e absoluta. Objetos criados são
sujeitos á influência do tempo e espaço que formam os ingredientes chefes
daquele princípio na criação que é conhecida pelo nome maya. Esta energia ilusória- maya,
se coloca entre nós e Deus até que não nos tornamos espirituais, e apenas
quando formos capazes de quebrar seus laços mesmo estando neste plano mortal,
aprenderemos a comungar nossa natureza espiritual com o não-condicionado e
Absoluto. Não! Maya não significa
apenas uma coisa falsa, mas também significa o cancelamento de todas as
Verdades. A criação não é ilusória (maya),
porém está sujeita á este princípio. O Bhagavat ensina que tudo que nós
saudavelmente percebemos é verdadeiro, porém esta aparição material é
transitória e ilusória. O escândalo da teoria de Shankara consiste da tendência
de tentar provar que a natureza é falsa, mas a teoria explicada no Bhagavat diz
que a natureza é real, porém não eternamente real como Deus e Seus propósitos.
Qual problema pode surgir se o homem acredita que a natureza é espiritualmente
real e que as relações físicas e fases da sociedade são puramente espirituais?
Não, isto não é apenas uma mudança de nome, mas uma mudança na natureza também.
Natureza é eternamente espiritual, mas a intervenção de Maya faz dela algo grosseiro e material. O homem, no seu progresso
religioso, persevera em descartar esta idéia grosseira como sendo infantil e
tola em sua natureza e por subordinar o princípio intervencionista de Maya, vive em contínua união com Deus e
sua natureza espiritual. O homem que realmente alcançou a salvação irá
livremente dizer ao seu irmão: “Se você deseja ver Deus, veja-me e se você
deseja ser uno com Deus, siga-me.”
O Bhagavat nos ensina esta relação entre o
homem e Deus e precisamos deste conhecimento. Esta sublime verdade é o forte
onde o materialista e o idealista devem se encontrar como irmãos da mesma
escola e este é o ponto para qual toda filosofia aponta.
Isto é chamado de Sambandha Jnana do Bhagavat, ou em outras palavras, o conhecimento
da relação entre o ser condicionado e o Absoluto.
2-
Abidheya
Devemos agora explicar o segundo grande
princípio inculcado pelo Bhagavat – o princípio do nosso dever para com Deus. O
homem deve espiritualmente adorar seu Deus. Existem três maneiras pela qual o
Criador é adorado pelo criado.
Todos os teólogos concordam em afirmar que
existe apenas um Deus e que não há um segundo, mas eles discordam ao dar um
nome comum a este Deus devido aos diferentes métodos de adoração que eles
adotam de acordo com a constituição das suas respectivas mentes. Alguns O
chamam de Brahma, outros de Paramatma e outros de Bhagavan. (Outros de Allah, Jeová
etc...)
Aqueles que adoram Deus como o Infinitamente
Grande através do princípio da admiração, o chamam de Brahma. Esta forma de adoração é chamada de jnana- conhecimento.
Aqueles que adoram Deus como sendo a Alma
Universal através do princípio de união espiritual com ele o chamam de Paramatma. Isto é Yoga.
Aqueles que adoram Deus como sendo Todo em
Tudo, com todo seu coração, corpo e firmeza, o chamam de Bhagavan. Este último
princípio é conhecido como Bhakti (Devoção).
O livro que prescreve a relação e adoração á
Bhagavan, procura por ele mesmo pelo nome de Bhagavat e o adorador é também
chamado pelo mesmo nome. Assim é o Bhagavat, decididamente o livro pata todas
as classes de teístas. Se adoramos Deus espiritualmente como o Todo em Tudo - o
Completo, com o nosso coração, mente e energia, nos tornamos todos Bhagavatas e
vivemos uma vida espiritual a qual nem o adorador de Brahma nem o Yogi pode
viver.
Superioridade do Bhagavat ao sintetizar
todos os tipos de adoração teísta.
A superioridade do Bhagavat consiste em unir
todos os tipos da adoração teísta em um único excelente princípio na natureza
humana, o que recebe o nome de Bhakti. Não existe uma palavra equivalente no
dicionário inglês. O Bhagavat nos diz para adorar Deus neste grande e
inestimável princípio; piedade, devoção, renúncia e amor espiritual puro sem
qualquer tipo de pedido exceto aqueles feitos em humor de arrependimento, o
qual é infinitamente superior ao conhecimento humano e ao princípio da Yoga.
Para uma completa explicação sobre o
princípio de Bhakti, teríamos que escrever um grande volume o que não é nosso
objetivo aqui. É suficiente dizer que o princípio de Bhakti atravessa por cinco
diferentes estágios no curso do seu desenvolvimento até chegar á sua mais
elevada e pura forma. Então novamente quando isto alcança a última forma, é
suscetível de um progresso avançado indo do estágio de prem (amor puro) até o estágio de mahabhav (amor puro em estágio completamente desenvolvido) que é de
fato uma completa transição ao universo espiritual onde apenas Deus é o porto
das nossas almas no estado mais puro.
O Bhagavat é a ilustração de Bhakti, o verdadeiro Abidheya
O volumoso Bhagavat nada mais é do que uma
completa ilustração deste princípio de contínuo desenvolvimento e progresso da
alma, da matéria grosseira ao Todo Perfeito Espírito, quem é distintamente
caracterizado como Transcendental, Pessoal, Eterno, Absolutamente Livre, Todo
Poderoso e Todo Inteligente. Não há nada grosseiro ou material neste processo.
Tudo é espiritual. Com a intenção de inculcar esta imagem espiritual no
estudante que tenta aprender isto, comparações do mundo material tem sido
usadas. Isto pode convencer o ignorante, o novato ou o não-praticante neste
processo. Exemplos materiais são absolutamente necessários para a explicação de
idéias espirituais. O Bhagavat acredita que o espírito da natureza é a verdade
natural e é a única parte prática disto.
O fenomenal aparecimento da natureza é
realmente teórico, mesmo que tenha feito uma grande impressão na nossa crença
desde os dias da nossa infância. O aparecimento externo da natureza nada mais é
do que um claro índice da sua fase espiritual. Comparações são, portanto,
necessárias. A natureza como ela é perante nossos olhos devem explicar o
espírito, do contrário a verdade permanecerá sempre cancelada e o homem nunca
sairá da sua criancice ainda que seu bigode e barba cresçam brancos como a neve
dos Himalayas. Toda filosofia intelectual e moral é explicada pela própria
matéria. Emerson maravilhosamente mostra como todas as palavras na filosofia
moral originalmente vieram dos nomes dos objetos materiais. As palavras;
coração, cabeça, espírito, pensamento, coragem, bravura etc... foram
originalmente nomes de algum objeto correspondente no mundo material.
Todas as idéias espirituais são similarmente
figuras do mundo material, porque a matéria é o dicionário do espírito, e
figuras materiais são nada mais que sombras dos afazeres espirituais, os quais
nossos olhos materiais carregam de volta para nossa percepção espiritual. Deus
na sua infinita bondade tem estabelecido esta infalível conexão entre a verdade
e sua sombra para termos uma impressão da verdade. Não é nossa intenção entrar
em detalhes sobre isto, então não poderemos citar algumas ilustrações nesta
breve leitura.
Cultivo dos modos de Bhakti
Todas as maneiras pela qual o homem pode se
treinar até chegar ao estágio de prema-bhakti,
como explicado acima, foi descrito em detalhes. Primeiramente somos avisados a
nos converter no mais grato servo de Deus. Nossa natureza foi descrita como
estando conectada á três diferentes fases em todos os nossos afazeres neste
mundo. Estas fases são chamadas; sattva,
raja e tama. Sattva-guna é a propriedade na nossa natureza que é puramente boa
desde que ela pode se manter pura em nosso presente estado. Raja-guna não é bom nem ruim. Tama é ruim. Nossas tendências e
afeições são descritas como as principais fontes de toda nossa ação e este é o
objetivo da nossa vida e conduta, bem como o treinamento destas afeições e
tendências até elevar-nos ao estágio de sattva-guna como foi prescrito pelo
princípio moral.
Porém os estágios preliminares devem ser
primeiramente observados
Porém isto não é tão fácil. Todas as nossas
ações devem ser cuidadosamente protegidas de tama-guna- o princípio do mal, por primeiramente adotar raja-guna, e quando isto é efetuado, a
pessoa deve subjugar seu raja-guna através
do natural sattva-guna que é o mais
poderoso de todos os três modos. Luxúria, preguiça, ações imorais e degradação
da natureza humana através de uso de intoxicantes (drogas em geral), são
descritas como tama-guna- o maldoso
modo da natureza. Isto deve ser obstruído pelo: casamento, trabalho útil,
abstinência de intoxicantes e deixar de causar problemas aos nossos vizinhos e
animais inferiores.
Quando então raja-guna se sobressai no coração, é nosso dever converter este raja-guna em sattva-guna- que é proeminente boa. Aquele amor conjugal que foi
primeiramente cultivado deve agora ser sublimado em amor espiritual sagrado-
amor entre a alma e outra alma. Trabalho útil irá agora ser convertido em
trabalho de amor e não de desgosto e obrigação.
Abstinência do trabalho ruim perderá sua negatividade e converterá em
trabalho bom e positivo. Então devemos olhar para todas as entidades vivas na
mesma luz que olhamos para nós mesmos. Devemos converter nosso egoísmo em
atividades desinteressadas para com tudo que nos cerca. Amor, caridade, fazer
coisas boas e devoção á Deus será nosso único trabalho. Vamos então nos tornar
servos de Deus por obedecer A Seus elevados e santos desejos.
Então Bhakti começa
Aqui começamos a ser Bhaktas (devotos) e somos suscetíveis de avanço adicional na nossa
natureza espiritual como foi descrito anteriormente. Tudo isto recebe o nome de
abidheya, o segundo ponto cardeal na
obra religiosa suprema – O Bhagavat.
Temos agora diante de nós os primeiros dois
pontos cardiais da nossa religião, de alguma maneira explicada em termos e
pensamentos expressados pelo nosso Salvador, que viveu apenas quatro séculos
atrás na linda vila de Nadiya, situada ás margens do Bhagirathi. Devemos agora
seguir até o último ponto cardeal nomeado por este Grande Reformador Sri
Chaitanya-dev como Prayojana-
objetivo.
Prayojana- Garantia do auspicioso futuro da humanidade
Qual é o objetivo do nosso
progresso espiritual, nossa oração, nossa devoção e nossa união com Deus? O Bhagavat
nos diz que o objetivo não é desfrute ou lamentação e sim progresso contínuo
até perfeitamente obter santidade espiritual e simetria ou harmonia interna (na
alma) e externa (no ambiente) em perfeito êxtase. Nos livros comuns da religião
Hindú onde raja e tama-guna foram descritos como caminhos
da religião, encontramos descrições de um céu e um inferno! O céu sendo mais
bonito do que qualquer outra coisa e o inferno mais tenebroso do que qualquer
figura assombrosa. Além disto, temos vários outros lugares onde boas almas são
enviadas no seu caminho de promoção. Existem 84 divisões no inferno, alguns
mais tenebrosos do que o que Milton descreveu no seu Paraíso Perdido. Estes são
certamente poéticos e foram originalmente criados pelos legisladores do país
visando parar com as más ações do povo ignorante que não é capaz de compreender
as conclusões da filosofia.
O Bhagavat não permite imaginação
poética que esteja além dos fatos espirituais
A
religião do Bhagavat é livre de tal imaginação poética. Na verdade em alguns
capítulos encontramos descrições destes infernos e céus, porém temos sido
avisados em algumas passagens á não aceitar estes lugares como sendo fatos
reais (não são eternos) e sim tratá-los como uma invenção para intimidar o
homem perverso e ajudar o simples e o ignorante. O Bhagavat certamente fala de
um estado de recompensa e punição no futuro de acordo com os nossos atos na
nossa presente situação.
Se todo o estoque das obras de teologia
Hindú que precederam o Bhagavat fosse queimado como a Livraria de Alexandria e
apenas o sagrado Bhagavat fosse preservado como ele é, nem mesmo uma parte
fragmentada da filosofia dos Hindus exceto as das seitas ateístas, estaria
perdida. O Bhagavat então pode ser denominado de ambos- uma obra religiosa e a
essência de toda história, cultura e filosofia Hindu.
O Bhagavat não permite pedidos
O
Bhagavat não permite que seus seguidores peçam qualquer coisa de Deus exceto
amor eterno á Ele. O reino do mundo, as belezas dos céus locais e a soberania
sobre o mundo material, nunca é o objetivo da oração do Vaishnava.
Vaishnavas oram por Bhakti
O Vaishnava humildemente diz: “Pai, Mestre,
Deus, Amigo e Esposo da minha alma! Santificado seja vosso nome! Eu não me
aproximo de você por qualquer coisa que você já tenha me dado. Eu tenho pecado
contra você e agora eu me arrependo e solicito seu perdão. Deixe que Sua
Santidade toque minha alma e torne-me livre de grosserias. Deixe que meu
espírito se dedique completamente e com toda humildade ao Seu Santo serviço em
amor absoluto a Ti. Tenho chamado por você meu Deus. Deixe que minha alma seja
inspirada em admiração pela sua grandeza! Tenho chamado você de Meu Mestre,
então deixe que minha alma seja inabalavelmente devotada á seu serviço. Tenho
chamado você de Amigo, então deixe que minha alma permaneça sobrecarregada em
amor reverencial á Ti e não em pavor e medo! Eu tenho lhe chamado de Esposo,
então deixe que minha natureza espiritual esteja em eterna união em amor á Ti para
sempre sem nunca sentir qualquer desgosto. Pai, deixe-me ter força suficiente
para ter Você como o consorte da minha alma, e então poderemos nos unir em amor
eterno! Que a paz reine no mundo!”
O Objetivo da busca do Vaishnava é o
amor divino
Tal é a natureza da oração do Bhagavat.
Alguém que tiver o privilégio de ler este livro encontrará a mais elevada forma
de oração nas expressões de Prahlad direcionadas á Universal e Onipresente Alma,
com poderes de converter todas as más forças á uma súbita submissão ou á
completa aniquilação. Esta oração rapidamente mostra qual é o objetivo da vida
de um Vaishnava. Ele não possui qualquer
ambição de ser Rei de uma certa parte do universo em sua próxima vida após a
morte, nem tampouco teme um local turbulento ou um ardente inferno- uma idéia
que faria os cabelos do jovem Hamlet arrepiar justo como os espetos de um porco
espinho! Sua idéia de salvação não é uma total aniquilação da sua existência
pessoal como a do Budista e os 24 Deuses que os Jainistas procuram para si
mesmos! Ele deseja servir Deus espiritualmente após a morte como ele serviu com
ambos- matéria e espírito, nesta vida. Sua constituição é um espírito puro e
seu maior objetivo na vida é obter um divino e santo amor, no presente e no
futuro.
A co-existência da alma Vaishnava e da
Alma Universal
Aqui pode surgir uma dúvida filosófica. Como
a alma humana pode vir a ter uma existência distinta e aparte da Alma Universal
no momento em que a parte grosseira da constituição humana (o corpo) não
existir mais? O Vaishnava não pode responder isto assim como qualquer outro
homem na terra. Ninguém pode explicar isto satisfatoriamente. O Vaishnava
humildemente responde que ele sente a verdade, mas não pode compreender o
bastante para explicar isto. O Bhagavat meramente afirma que a alma do Vaishnava,
quando livre da matéria grosseira, irá sempre ter existência distinta não em
tempo e espaço, mas espiritualmente no eterno Reino Espiritual de Deus onde
amor é vida. Ali, esperança, caridade e êxtase contínuo e progressivo, são
alguns dos aspectos das suas várias manifestações.
Dois erros em conceber idéias sobre Deus
No entendimento da verdadeira essência da
Deidade, dois grandes erros nos confrontam e nos arrastam de volta á ignorância
e para a satisfação dela. Uma delas é (1) a idéia de que Deus está acima de
todos os atributos- material e espiritual, e está conseqüentemente acima de
todas as concepções. Esta pode ser uma idéia nobre, porém inútil. Se Deus está
além de qualquer concepção e não tem qualquer simpatia com o mundo, como então a
criação se fez possível? Um universo composto de componentes viáveis? A
distinção e fases da existência evidenciada, as diferenças de valor
testemunhadas? Homem, mulher, bestas, árvores, magnetismo, magnetismo animal,
eletricidade, paisagem, água e fogo, vistos distintamente? Neste caso a teoria mayavada de Shankaracharya seria uma
filosofia absoluta. O outro erro é (2) pensar que Deus é Todo-atributo, ou
seja; inteligência, verdade, bondade e poder. Esta também é uma idéia ridícula.
Propriedades espalhadas separadamente nunca podem constituir uma entidade.
Ambas as idéias são, portanto, imperfeitas.
Harmonia do Bhagavat
A verdade como estabelecida no Bhagavat, é
aquela onde apesar de que muitas propriedades naturalmente se opõem
agressivamente entre si, ainda sim são unidas em uma Entidade espiritual onde
elas possuem total congruência, união, simpatia e perfeita harmonia. Certamente
isto está além da nossa compreensão. Isto é devido á nossa natureza de ser uma
entidade finita e a natureza de Deus ser infinita. Nossas idéias são
constrangidas e limitadas pela idéia de espaço e tempo, mas Deus está além de
qualquer tipo de limitação ou constrangimento. Este é um vislumbre da Verdade e
nós devemos considerar isto como sendo a própria Verdade. Freqüentemente
Emerson diz que um vislumbre da verdade é melhor do que qualquer sistema
arranjado, e ele está certo.
Deidade espiritual do Bhagavat
O Bhagavat tem, portanto, uma Pessoa
Transcendental. Todo-Inteligente, Ativo, Absolutamente Livre, Divino,
Todo-Poderoso, Onisciente, Onipresente, Justo e Misericordioso. Ele é uma
Deidade Supremamente Espiritual sem que haja um segundo. Ela cria e mantém tudo
no universo. O maior objetivo do Vaishnava é servir Esta Entidade Infinita
eternamente e espiritualmente na atividade do Amor Absoluto.
Vyasa- O Grande compilador do Bhagavat
Estes são os principais princípios da
filosofia e religião inculcada pela obra chamada O Bhagavat, e Vyasa em sua
grande sabedoria, tentou seu melhor ao explicar todos estes princípios com a
ajuda de imagens percebíveis no mundo material. Sem dúvida, o crítico vago irá
rapidamente rejeitar este grande filósofo o chamando de adorador do homem. Ele
iria até mesmo mais longe o escandalizando ao chamá-lo de professor do amor
material e do prejudicial princípio do ascetismo exclusivo.
A mente do vago crítico vai sem dúvida ser
transformada se ele refletir sobre apenas um grande ponto fundamental- como é
possível que um espiritualista da qualidade de Vyasa, ensinando os melhores
princípios do teísmo através do Bhagavat e compondo os quatro textos citados no
começo como sendo a fundação da sua poderosa obra, pôde ter criado na crença do
homem a idéia de que uma relação sensual entre um homem e certas mulheres é o
maior objeto de adoração? Querido crítico, isto é completamente impossível!
Vyasa não poderia ter ensinado um renunciante comum a criar um lugar de
adoração com um certo número de moças! Vyasa, que poderia nos ensinar
repetidamente em todo o Bhagavat que o prazer sensual é tão momentâneo como os
prazeres de acabar com uma coceira ao esfregar a pele com as mãos, e que o dever
do homem é possuir amor espiritual por Deus, não poderia nunca ter prescrito a
adoração ou até mesmo qualquer indulgência em prazeres sensuais.
Suas descrições são sem dúvida espirituais,
e você não deve relacionar matéria do mundo grosseiro com isto. Seguindo este
conselho, meu querido crítico, adentre no Bhagavat e eu não duvido que em três
meses você irá chorar e se arrepender para Deus por ter desprezado esta grande
e nobre revelação que emanou através do coração e cérebro do Grande Badarayan
(Vyas).
Os Filósofos e os reformadores sempre são
mal compreendidos
Sim, você irá nobremente nos dizer que tais
comparações filosóficas deixaram feridas no ignorante e no não-pensativo. Você
nobremente aponta os atos imorais de alguns renunciados pervertidos, que sem
nenhuma vergonha tem a audácia de chamar a si mesmos de ‘seguidores do Bhagavat
e do grande Chaitanya’. Você nobremente nos diz que um reformador como Vyasa, a
menos que puramente explicado, pode em pouco tempo levar milhares de homens á
um grande risco e problemas no porvir. Mas querido crítico, estude as histórias
das eras e países! Onde você encontrou um filósofo ou reformador plenamente
compreendido pelo povo? A religião popular é medo de Deus e não o puro amor
espiritual que Platão, Vyasa, Jesus e Mahaprabhu ensinaram aos seus respectivos
povos! Quer você dê a religião absoluta em figuras ou simples expressões ou as
ensine por meio de livros ou palestras orais, o homem ignorante e o homem não
pensativo certamente a degradarão. Na verdade é muito fácil dizer e agradável
ouvir, que a Verdade Absoluta tem tal afinidade com a alma humana que se revela
de modo como que intuitivo, e que nenhum esforço é necessário para nos ensinar
os preceitos da verdadeira religião, mas esta é uma idéia enganosa. Isso pode
ser verdade no que diz respeito à ética e ao mero alfabeto da religião, mas não
no que se refere à forma mais elevada de fé, a qual requer uma alma exaltada
para compreendê-la. Isto certamente requer prévia educação da alma nos
elementos da religião, justo como o estudante de frações deve ter um prévio
aprendizado nos números elementares e figuras da Aritmética e Geometria. ‘A
verdade é boa’- é uma verdade elemental, a qual é facilmente aprendida pelas
pessoas comuns. Mas se você diz á um comum homem não educado que Deus é
infinitamente inteligente e poderoso em Sua natureza espiritual, ele irá
conceber uma idéia bastante diferente daquilo que você quis dizer com esta
expressão.
Apreciação das verdades elevadas requer
prévia educação
Todas as verdades superiores embora intuitivas
requer prévia educação, começando dos princípios simples e elementares da
religião. A religião mais pura é aquela que dá a idéia mais pura de Deus, e a
religião Absoluta requer uma concepção absoluta do homem sobre sua própria
natureza espiritual. Como então é possível que o ignorante obtenha a religião
absoluta, enquanto permanece ignorante nos ensinamentos básicos e filosofia da
religião? Apenas quando os pensamentos se manifestam é que o pensador não mais
permanece ignorante e se torna naturalmente capaz de obter a idéia absoluta da
religião. Esta é a verdade e Deus tem feito isto em Sua infinita bondade,
imparcialidade e misericórdia. Trabalho tem seu salário, mas a inatividade
nunca será recompensada. Quanto maior o trabalho maior a recompensa- esta é uma
máxima útil da verdade. O homem não pensativo deve necessariamente ficar
satisfeito com a mera superstição até que acorde e abra seus olhos para o Deus
do amor.
A infinita misericórdia do reformador
Sri Chaitanya ao explicar o Bhagavat
Os reformadores, devido ao seu amor
universal e compaixão ao fazer o bem á todos, sinceramente sempre se esforçam
de um jeito ou de outro para fazer com que o não pensativo tome o copo da
salvação; mas o outro toma isto com vinho e cai no chão entorpecido sob a
influência da intoxicação, porque a imaginação também tem o poder de moldar uma
coisa que na verdade nunca existiu. É neste sentido que os males de Nunneries e
as corrupções do Akhras começam. Não!
Não devemos minimizar e escandalizar o Salvador de Jerusalém ou o Salvador de
Nadiya pelos subseqüentes males de alguns seguidores perversos. Luteros ao
invés de críticos baratos é o que queremos para a correção daqueles males,
através da verdadeira interpretação dos preceitos originais.
Os princípios de liberdade e progresso
do Bhagavat
Mais dois princípios caracterizam o
Bhagavat- liberdade e contínuo progresso da alma por toda a eternidade. O
Bhagavat nos ensina que Deus nos dá a verdade, como deu á Vyasa, quando
ansiosamente buscamos por ela. A verdade é eterna e inesgotável. A alma recebe
uma revelação da Verdade apenas quando está realmente ansiosa por isto. As
almas dos grandes pensadores das eras passadas que agora vivem espiritualmente,
freqüentemente aproximam do nosso espírito indagador e o assiste em seu
apropriado e gradual desenvolvimento. Assim, Vyasa foi assistido por Narada e
Brahma.
Como a Verdade muda com o tempo devido à
troca de mãos
Nossas tantas escrituras, ou em outras
palavras, livros de pensamento, não contém agora tudo que podemos obter do Pai
Infinito. Nenhum livro está livre de erros. A revelação de Deus é sem dúvida
Verdade Absoluta, mas é escassamente recebida e preservada em sua pureza
natural.
Temos sido avisados no Capítulo 14 do Canto
11 do Bhagavat á acreditar que a Verdade quando revelada é Absoluta, mas a
mesma é passível de ser imbuída com a tintura da natureza daquele que a recebe
e no decorrer do tempo é completamente mudada e convertida em erro através da
contínua troca de mãos de tempos em tempos. Conseqüentemente, sinceras
revelações da fonte autêntica são continuamente necessárias para manter a
verdade em sua pureza original.
A necessidade da liberdade
Assim,
somos advertidos a ser cuidadosos em nossos estudos de velhos autores por mais
sábios que eles sejam no que diz respeito à sua reputação. Aqui, temos plena
liberdade de rejeitar a idéia errônea que não é sancionada pela paz da
consciência.
Experiência pessoal de Vyasa á este
respeito
Vyasa não estava satisfeito com aquilo que já
havia coletado nos Vedas, dispôs nos Puranas, e compôs no Mahabharata. A paz da
sua consciência não sancionava suas obras passadas. Ela lhe dizia internamente:
“Não Vyasa! Você não pode descansar contente com o quadro errôneo da verdade
que lhe foi necessariamente apresentado pelos sábios de tempos passados! Deves
você mesmo, bater à porta do reservatório inexaurível da verdade do qual os
sábios antigos retiraram sua rica inspiração. Vá! Vá até a fonte da verdade,
onde nenhum peregrino encontra qualquer tipo de desapontamento”. Vyasa o fez e
obteve o que desejava. Somos todos aconselhados a fazer o mesmo. A liberdade
então é o princípio que devemos apreciar como sendo a mais valiosa dádiva de
Deus. Não devemos permitir que sejamos liderados por aqueles que viveram e
pensaram antes de nós. Devemos pensar por nós mesmos e tentar obter verdades subseqüentes
que ainda não foram descobertas ou não foram adaptadas para as condições do
presente. No Srimad Bhagavat (11.21.23) somos aconselhados a absorver o
espírito das escrituras e não as meras palavras. O Bhagavat é a religião da liberdade,
verdade descontaminada e amor absoluto.
A necessidade do progresso
A outra característica é o progresso. A
liberdade certamente é a mãe de todo progresso. A santa liberdade é a causa do
progresso cada vez mais elevado na eterna e interminável atividade do amor.
Liberdade mal usada causa degradação e o Vaishnava deve sempre usar
cuidadosamente esta bela dádiva de Deus. O progresso do Bhagavat é descrito
como o nascer da alma, da natureza até o Deus da natureza, de maya- a Energia Absoluta e Infinita até
a Própria Pessoa Absoluta e Transcendental. Então, o Bhagavat nos diz sobre si
mesmo: “Este é o fruto da árvore do pensamento, adicionado com o néctar da fala
de Sukadev. Este é o templo do amor espiritual! Oh! homem de piedade! Beba
profundamente este néctar do Bhagavat repetidamente até que você seja levado
para bem longe deste quadro mortal!”
Nossos nobres Guias nos ajudam a
compreender o Bhagavat
O Bhagavat é sem dúvida uma obra difícil de
se compreender. Por tanto, comentários são necessários para nos ajudar em nosso
estudo. O melhor comentarista é Sridhar Swami e o verdadeiro intérprete é nosso
grande e nobre Chaitanya-dev. Estas grandes almas não foram meras iluminárias
que assim como os cometas aparecem no firmamento por um determinado tempo e desaparece
assim que sua missão é cumprida. Eles
são como milhões de sóis brilhando tudo continuamente para dar luz e calor ás
gerações futuras. Muito tempo ainda há de rolar até que eles sejam sucedidos
por outros de sua mesma sublime mentalidade, beleza e calibre.
Nosso único guia é Vyasa- o Grande
Os escritos de Vyasa ainda estão tocando nos
ouvidos de todo teísta como se um grande espírito ainda estivesse os cantando
de longe! Badrikasram! Que nome terrível! O assento de Vyasa e da seleta
religião do pensamento! O peregrino nos diz que a terra é fria! Quão poderoso
foi o gênio Vyasa ao gerar o calor da filosofia em tal região perpetuamente
gelada e coberta de neve! Ele não apenas
esquentou o local, mas mandou este sereno raio bem longe até as margens do
oceano! Assim como o grande Napoleão no mundo político, ele destruiu impérios e
reinos da filosofia antiga e também contemporânea com o poderoso golpe do seu
pensamento transcendental! Isto sim é poder!
A filosofia ateísta de Shankhya, Charbak, dos
Jainistas e dos Budistas, estremeceram de medo com o heróico avanço dos
sentimentos espirituais e criações do filósofo do Bhagavat! O exército dos ateus
era composto de criaturas grosseiras e impotentes assim como as legiões que se
ergueram sob o banner da caída Lúcifer, mas os soldados puros, santos e
espirituais de Vyasa, enviados pelo seu Poderoso Pai, foram invencivelmente
ferozes com o inimigo e destruíram tudo que era profano e infundado.
Nossos guias seguintes são os Acharyas
Aquele que trabalha na luz de Deus vê as
mínimas coisas na criação. Aquele que empunha o poder de Deus é invencível e
grande e aquele que conduz sua destinada missão com a Santidade de Deus em seu
coração, não encontra dificuldades nas realizações do seu dever contra as
coisas e pensamentos profanos. Deus trabalha através dos seus agentes e estes
agentes são denominados pelo próprio Vyasa como as encarnações do poder de
Deus. Todas as grandes almas foram encarnações desta classe e encontramos a
autoridade deste fato no próprio Bhagavat:
“Oh! Brahmanas! Deus é a alma do princípio
da bondade! As encarnações deste princípio são inumeráveis. Assim como milhares
de córregos fluem de uma inesgotável fonte de água, estas encarnações emanam da
boa e infinita Energia de Deus, que está sempre cheia.”
O Bhagavat então, nos permite a chamar Vyasa
e Narada de Shaktiavesh Avataras da infinita Energia de Deus e o espírito deste
texto apresenta-se para honrar todos os grandes reformadores e mestres que
viveram e viverão neste e em outros países. O Vaishnava está pronto para honrar
todos os grandes homens sem distinção de cor ou casta, porque eles estão
repletos da Energia de Deus. Vedes quão universal é a religião do Bhagavat. Ela
não se destina apenas a uma certa classe de Hindus, mas é uma dádiva para os homens
em geral, sejam eles nascidos em qualquer país, criados em qualquer sociedade e
produzidos em qualquer cultura. Em suma, o Vaishnavismo é o Amor Absoluto
unindo todos os homens ao infinito, não-condicionado e absoluto Deus. Que a paz
reine suprema para sempre em todo universo no contínuo desenvolvimento da sua
pureza, através do esforço de futuros heróis que serão abençoados de acordo com
a promessa do Bhagavat, com poderes do Pai Todo-Poderoso, O Criador, Preservador
e Aniquilador de todas as coisas no céu e na terra.
Srimad Bhagavat Jayatah!!!
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