Um dos pontos mais discutidos da Santa Bíblia e também nos Vedas é a questão das leis ou regras que o praticante deve seguir visando aproximar-se de Deus ao se tornar puro de coração. Alguns dizem que tais regras ou leis são desnecessárias e que apenas a 'fé' nos livrará de todo mal. Outros dizem que as leis-regras são demasiadamente essenciais para o avanço espiritual. Levando as duas opiniões em consideração, vamos ver o que as escrituras dizem sobre este tópico e reconciliar as aparentes contradições nelas contidas.
Primeiramente o próprio Senhor Jesus disse que não veio para destruir a lei, e sim para cumpir-la. Esta bem claro que Jesus não era contrário ás leis de Moisés, então porque às vezes, ele ás criticou? Simplesmente porque ele queria enfatizar a consciência-intenção por trás da ação e não porque queria invalidar as leis-regras como vários cristãos pensam. Para clarear este ponto temos que compreender que toda situação deve ser ajustada de acordo com a atitude interna de cada pessoa e também de acordo com as circunstâncias. Nos Vedas também, como no segundo verso do livro “Upadesamrta”, encontra-se a seguinte declaração: “Seguir as regras com zelo excessivo ou de forma fanatica, é uma ofensa no caminho da devoção a Deus”. Tanto na Bíblia quanto nos Vedas, foi dito que seguir as leis-regras somente por segui-las, de forma fanática, pensando ser melhor que o outro simplesmente por tais hábitos externos, é contrário á lei da fé e da devoção pregada pelos profetas e Deus. Para os judeus, que eram circuncisados e seguiam as leis, Jesus quis mostrar que seguir todas as leis sem o objetivo de progredir na fé e sem aceita-lo (a Jesus) como o filho de Deus, resultaria em um grande pecado para eles. Os judeus também se julgavam superiores simplesmente por seguir estas leis sem considerar o avanço interno na fé de cada um, principalmente aqueles que andavam com o próprio Senhor Jesus. (Na Índia o mesmo ocorre com os orgulhosos brahmanas de casta que se julgam superiores simplesmente por terem nascidos em famílias brahmínicas e terem feitos certos rituais védicos). Sendo assim, Jesus disse: “Deve-se ter cuidado com o que sai da boca e não com o que entra”. Falando isso, ele não queria indicar que ninguém deve seguir as leis referente a alimentação e oferenda apropriada e sim que ela deve ser seguida para a purificação interna e essência da língua, que é o sentido da fala. Se alguém segue as leis-regras de alimentação pura, mas vive criticando outros se sentido superior (fanatismo) simplesmente por este ‘puro’ hábito externo, então tais regras não o ajudará em nada. Apenas o orgulho e as ofensas vão aumentar dentro dela. Por isso Jesus e os apóstolos por vezes disseram: “Esqueçam estas leis”. Óbvio que isto não significa que eles eram contra a lei como Jesus mesmo disse, mas sim contra a maneira com que ela era encarada pelos judeus. A atitude interna é mais importante do que a externa embora a externa também deva ser respeitada. São Thomaz de Aquino também dividiu as regras de acordo com código sociais-morais e espirituais. Esta é a conclusão. Por isso, em Coríntios, Paulo repetidas vezes parece contradizer suas palavras prévias. Com isto ele queria ensinar que a consciência com a qual o ato é praticado é muito mais importante do que o ato em si. Apóstolo Paulo confirma este fato quando diz em Romanos 8.27: “E aquele que examina os corações, sabe qual é a intenção do espírito, e é ele que segundo Deus intercede pelos santos”. A história de Cain e Abel também ilustra este ponto. Claro que muitos usarão tais passagens para justificar sua inabilidade de obedecer as regras-leis de Deus. Outros iriam preponderar estarem muitos puros internamente mesmo tendo várias impurezas internas como luxúria etc, simplesmente para ficarem livres da lei-regras. Porém Deus está presente no coração de todos, não há como engana-Lo.
Agora sobre as circunstãncias, Nos Vedas também há passagens como a história de Viswamitra e Indra que justificam que a lei-regra deve ser seguida de acordo com as circunstãncias. Uma vez, o Sábio Viswamitra estava no deserto com seus discípulos e estavam com muita fome, não tendo nada para comer. De repente avistaram um cachorro e alguns propuseram mata-lo e come-lo. Viswamitra inicialmente não gostou da Idea visto que é inapropriado para um espiritualista comer animais, e após considerar a situação, resolveu matar o cachorro e dividir a carne para que eles não morresem de fome. Quando ia matar o animal, Indra-dev apareceu no local e reprimiu Viswamitra dizendo: “Ó, você não deve matar este animal, um brahmana não deve matar animais nem come-los de forma alguma”. Houve então uma longa discussão e Viswamitra concluiu dizendo que ele não incorreria em pecado algum se, nesta situação inesperada, comesse o animal para não morrer de fome e que este ato não iria contaminar sua consciência, pois a alma é diferente do corpo. No caso da multiplicação dos peixes, Srila Gurudev também disse que em certas ocasiões extremas onde não há outros alimentos, grãos, frutas, vegetais etc, o ato de comer animais não é pecado. Muitos usam isto para comer carne livremente, porém no Brasil este exemplo é inadequado visto que as terras são abundantes e boas para plantio.
Da mesma forma, na Bíblia, quando o anjo disse a Pedro para comer os animais que Deus havia purificado, ele primeiramente disse: “Nunca comi nada impuro”. Isto indica que Pedro mesmo tendo vivido com Jesus três anos, seguia todas as leis. Outra vez, Paulo declarou: “Vocês podem comer toda carne do açougue”. Ele disse isso porque os alimentos ‘puros’ dos judeus eram oferecidos aos ídolos e não á Deus. Da mesma maneira, quando o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu estava peregrinando no sul da Índia, ele não comia nada que lhe era oferecido pelos adoradores de vários deuses, mesmo se fosse aparentemente ‘puro’- vegetariano. Assim, eles ensinaram que mesmo se o alimento é ‘puro’ mas foi oferecido a qualquer outra entidade-deidade que não seja Deus, deve ser considerado impuro do ponto de vista absoluto-espiritual. Alguns cristãos também são contra o espiritismo, porém se alguém estuda as instruções de Paulo, irá detectar que a todo tempo ele fala da importância da purificação do espírito (alma) ao invés da carne- corpo físico. Abraão também estava pronto para matar o próprio filho ao escutar a voz de Deus pedindo isto. O ensinamento importante aqui é que qualquer coisa ou alimento que foi purificado ou ordenado diretamente pelo Senhor, deve ser considerado puro mesmo que não pareça ser do ponto de vista externo. Qualquer ordem que vem diretamente de Deus deve sobrepor qualquer outra regra. Por isso também Srila B.V.Swami Prabhupad disse em uma carta direcionada a um de seus discipulos: ”Não somos nem Jainistas nem Budistas, cuja propaganda é ir contra a matança de animais. Até mesmo vegetarianos que não tomam o alimento purificado por Deus (krsna-prasad) são tão pecaminosos quanto os não-vegetarianos”. Assim, fica claro que a principal-espiritual regra quanto a isso é que deve-se obedecer as ordens de Deus e ofere-Lo apenas os alimentos permitidos nas escrituras e principalmente oferece-las a Deus com amor e devoção. A conduta ideal é que deve-se comer apenas os alimentos apropriados (permitidos na particular escritura do respectivo praticante) apenas após oferecê-los e então purificados em nome de Deus. Isto é muito importante para aqueles que desejam progredir no caminho do amor a Deus visto que a língua é o primeiro sentido que deve ser controlado para o avanço espiritual, tanto referente ao alimento quanto no sentido da fala (Por comer apenas alimentos purificados por Deus e cantar Seu Santo Nome, o praticante progride rapidamente no caminho de volta ao lar eterno). Por outro lado, os judeus fariseus da época e devotos fanáticos dão importância apenas aos alimentos em si e é aí que esta sua falta. Porém, visto que receber ordens diretamente de Deus ou de Seus profetas é muito raro, a conduta ideal é que o praticante ofereça a Deus (com devoção) apenas os alimentos permitidos nas leis-regras de sua religião particular e nada além disso. A pessoa deve fazer isso com o único objetivo de fortalecer sua fé e amor a Deus e não com qualquer outro propósito, como o de se julgar melhor que os outros simplesmente por seguir tais leis-regras. Não se deve criticar desnecessariamente aqueles que não seguem as leis-regras e sim ter amor e misericórdia por todos. Assim um dia eles também podem se tornar bons espiritualistas-religiosos. Do contrário, certamente incorrerá em pecado, tanto aqueles que não seguem as leis-regras quanto àqueles que as seguem com fanatismo. Esta é a conclusão deste tópico de acordo com os ensinamentos dos profetas-Gurus. Amor implica sacrifício. Fé implica em obedecer as palavras das escrituras.
baladev b.
que bem escrito e esclarecedor estudo comparado.
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